terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A capital da prostituição

Operação Red Light


10:52:34

Operação da Polícia Civil do DF confirma Brasília como um dos principais mercados para as garotas de programa no país por causa do alto poder aquisitivo e a proximidade com o poder. Com a ação, foram presas as três principais cafetinas

Suposta testemunha chega à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher para depor na última segunda-feira: rede atendia empresários e políticos
Nana, Paola e Ana Júlia são os nomes profissionais de prostitutas de luxo em Brasília. Elas ganham muito dinheiro, mas não têm vida fácil. Custa caro entrar e se manter nesse mercado, além dos riscos inerentes ao ofício. Da bolsa de cada uma saem pelo menos R$ 5 mil por mês, pois não basta apenas estar disposta a vender o corpo. É preciso ser discreta, chique e inteligente. Além de um corpo escultural, tem de saber conversar, vestir-se, maquiar-se. Nada de muita pintura, roupa exageradamente curta nem jeito vulgar. A maioria das meninas do ramo mora no Plano Piloto, usa peças de grife, malha nas mais badaladas academias da cidade e estuda em faculdades particulares. Algumas têm personal trainner e falam mais de uma língua estrangeira. Mas têm vida útil curta. Aos 30 anos, são consideradas velhas.  ...

Esses itens diferenciam as prostitutas de luxo, que atendem  em hotéis, em festas privês, em casas de fim de semana e nos iates dos clientes, das que trabalham nas ruas e em inferninhos. Para viabilizar os encontros com as mais cobiçadas profissionais do ramo, políticos, empresários e lobistas recorrem a gente especializada. Um dos principais motivos é o temor de ser flagrado em telefonemas comprometedores. A negociação, quase sempre, é feita por assessores. Eles as encontram em sites e em telefonemas às cafetinas. Por isso, nove em cada 10 prostitutas que trabalham em Brasília sonham integrar o cast de gente como Jeany Mary Corner, 53 anos, Vilma Nobre, 44, Marilene Oliveira, 49, e Ângela Castro, 49.

Vilma Nobre é suspeita de movimentar mais dinheiro entre as três chefes
 
Jeany Mary Corner (E) e Marilene Oliveira também lideram organizações

Jeany Mary protagonizou alguns escândalos da política nacional. Ela e as três mulheres são apontadas pela Polícia Civil como as cabeças de um esquema milionário de prostituição de luxo no DF. Todas acabaram presas na Operação Red Light, desencadeada na última segunda-feira. No sábado, elas ganharam o direito de responder ao processo em liberdade. Com elas e cinco homens, os agentes recolheram farto material, usado como prova de crimes. São agendas, cadernetas, celulares, entre outros.

A delegada responsável pelo inquérito, Ana Cristina Santiago, chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), diz não haver dúvida de que o bando ganhava altas porcentagens pelos programas sexuais e por aluguéis de imóveis para as mulheres, os homens e os travestis arregimentados. Algumas dessas pessoas eram mantidas no negócio sob ameaças.

Festas de arromba

O alto poder aquisitivo, a proximidade com o poder e a gastança desenfreada de dinheiro público com extravagâncias de todo tipo fazem de Brasília um dos mais movimentados mercados da prostituição de luxo, ao lado de São Paulo, a capital financeira do país. Jeany Mary, por exemplo, ficou famosa nacionalmente porque teria agenciado garotas de programa para políticos — com recursos das empresas do publicitário Marcos Valério e com dinheiro do mensalão — e tantas outras meninas para festas numa mansão do então ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Conversas telefônicas interceptadas com autorização judicial para a Red Light mostram a quadrilha de Jeany Mary combinando encontros de prostitutas em hotéis e em casas. Um dos imóveis usados frequentemente pelo grupo fica na Quadra 16 do Park Way, segundo denúncias recebidas pela Polícia Civil. E são esses eventos, segundo as prostitutas, que mais dão dinheiro a elas e às agenciadoras, apesar de terem de dividir metade do cachê. Por isso, algumas lamentam as prisões das chefes. “Por conta própria, tenho que batalhar muito para ganhar R$ 500, R$ 600 em um programa. E são poucos. Trabalhando para a Jeany e a Vilma, fazia uma festa por semana e, em cada, mantinha vários contatos. Cobrava até R$ 2 mil em um programa”, conta Ana Júlia, 24 anos.

A morena de cabelos pretos, olhos castanhos, 1,65m de altura e 53kg trabalhava para as cafetinas em mansões no Lago Sul e no Park Way. Também atendia nos flats dos políticos. “Se a gente não vai às festas ou atende político, precisa procurar boates. Nas melhores, as mais caras, onde somos muito exploradas, pois varamos a noite, também temos de pagar taxas. E a clientela não tem tanto dinheiro quanto os políticos”, reclama a jovem, formada em administração de empresas.

Além dos cachês mais gordos, alguns políticos pagam mensalidades às garotas e oferecem presentes e viagens. Há quem ganhe até emprego no Congresso Nacional. Com salário médio de R$ 4 mil, algumas nem precisam bater ponto. Outras têm como única função recolher assinaturas de parlamentares para projetos de lei.

Presidencial

Pelo menos duas festas bancadas por meio de seu sócio, Ricardo Machado, chegaram ao conhecimento da Polícia Federal nas investigações do mensalão. Em 9 de setembro e em 5 de novembro de 2003, o cenário foi o mesmo, a suíte presidencial do Hotel Grand Bittar, com champanhe Veuve Cliquot, uísque 15 anos e latas de energético. Entre os convidados, dirigentes do PT eufóricos com a tomada do poder nacional por meio da eleição de Lula a presidente.

República

Ele perdeu o cargo em 2006 após denúncias de quebra do sigilo bancário do caseiro da residência do Lago Sul, Francenildo dos Santos Costa. O funcionário havia relatado as festas no imóvel, batizada como República de Ribeirão Preto, em referência à terra natal do ex-ministro.

Para saber mais
Divulgação  on-line


Os sites nos quais homens, mulheres e travestis oferecem o corpo também são negócios bem rentáveis às cafetinas, como revelou a Operação Red Light. A polícia identificou vários endereços eletrônicos ligados às agenciadoras presas. Cada página tem mais de 30 meninas e rapazes. Em média, cobra-se R$ 250 por mês para manter o anúncio em um dos sites. O preço sobe de acordo com o destaque na home-page. E só podem ser exibidas imagens feitas por dois dos homens presos na ação da Polícia Civil. Eles cobravam R$ 300 pelo ensaio fotográfico feito em um motel.
Fonte: Renato Alves - Correio Braziliense - 08/12/2013

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