O Estado de S.Paulo - 10/12
É certo que a presidente Dilma Rousseff poderá continuar anunciando, como já está fazendo, que, por mais um ano, seu governo manteve a inflação dentro da meta. Muito provavelmente, quando 2013 fechar, poderá até se vangloriar de a variação do IPCA de 2013 ter ficado abaixo da registrada no ano anterior. É claro que ficará faltando dizer que o resultado passou longe do centro da meta, contou com o represamento de preços administrados e exigiu o retorno dos juros básicos aos dois dígitos.
Nessa mesma linha de argumentação, o governo encontrará suporte para afirmar que, apesar da carga pesada dos críticos, praticamente cumpriu a meta de superávit primário. Depois de projeções de um primário até abaixo de 1% do PIB, em 2013, a conta deve fechar perto de 1,8% do PIB. Sim, também aqui faltará acrescentar que o resultado "positivo" se deveu a uma combinação de sucessivos descontos "legais", manobras contábeis e, finalmente, receitas atípicas, que não se repetirão, como as obtidas com leilões de concessão, com o notável destaque do campo petrolífero de Libra, e renegociações de dívidas do Refis.
Também em relação às contas externas, embora não seja possível estufar o peito e proclamar resultados satisfatórios, quando o saldo negativo em contas correntes salta quase 50% entre 2012 e 2013, se aproximando de 4% do PIB, o governo tratará de comemorar, no encerramento do ano, uma balança comercial no azul, ainda que nas beiradas do zero a zero. Mas, obedecendo ao seu estilo, não lembrará, entre outras manobras, das "exportações" de plataformas de petróleo que nunca saíram do lugar, mas ajudaram a evitar o primeiro déficit comercial em mais de uma dúzia de anos.
Não são necessários mais exemplos, ainda que muitos outros estejam por aí, para concluir que existe uma desarrumação na contabilidade do conjunto de indicadores brasileiros macroeconômicos. Bem possível, por sinal, que seja esse o maior problema da política econômica do governo Dilma. Assim, embora seja compreensível que os críticos aproveitem a barafunda que se armou para bater na aplicação de modelos de política econômica diferentes daqueles em que acreditam, eles miram no alvo errado.
Se hoje é fácil dizer que linhas de política econômica heterodoxas deram errado, era tão fácil quanto dizer que estavam equivocadas as ações tidas como ortodoxas que levaram aos péssimos resultados dos primeiros anos da década passada.
A verdade é que, sem primeiro limpar as contas dos truques insistentes e liberar os represamentos, recompondo a ordenação natural dos indicadores, nenhum modelo puro de política econômica terá a capacidade de corrigir as distorções provocadas pelas armações.
Acossado pela dupla ameaça de perda do grau de investimento, conferido ao País em 2008 pelas agências de classificação de risco, e da fuga de recursos externos para a economia americana, no momento em que parece se aproximar o início da reversão dos estímulos monetários, nos Estados Unidos, o governo Dilma está diante de um problema que pode ser encarado como oportunidade para promover uma faxina nas gambiarras que, claramente, estão conturbando a administração da economia.
São muitos os que, seguindo o roteiro convencional, contrataram apenas para 2015 a adoção de políticas corretivas, dando de barato que, em ano eleitoral, não se mexe na economia. Nem tanto pelo previsto novo ano de baixo crescimento, mas acima de tudo pela alta probabilidade de um recrudescimento da inflação às vésperas da eleição, pelo menos desta vez poderia ser um pouco diferente. A propósito, não deixa de ser alentador que movimentos na direção de evitar o aprofundamento de tantos erros comecem a dar o ar da graça.
É certo que a presidente Dilma Rousseff poderá continuar anunciando, como já está fazendo, que, por mais um ano, seu governo manteve a inflação dentro da meta. Muito provavelmente, quando 2013 fechar, poderá até se vangloriar de a variação do IPCA de 2013 ter ficado abaixo da registrada no ano anterior. É claro que ficará faltando dizer que o resultado passou longe do centro da meta, contou com o represamento de preços administrados e exigiu o retorno dos juros básicos aos dois dígitos.
Nessa mesma linha de argumentação, o governo encontrará suporte para afirmar que, apesar da carga pesada dos críticos, praticamente cumpriu a meta de superávit primário. Depois de projeções de um primário até abaixo de 1% do PIB, em 2013, a conta deve fechar perto de 1,8% do PIB. Sim, também aqui faltará acrescentar que o resultado "positivo" se deveu a uma combinação de sucessivos descontos "legais", manobras contábeis e, finalmente, receitas atípicas, que não se repetirão, como as obtidas com leilões de concessão, com o notável destaque do campo petrolífero de Libra, e renegociações de dívidas do Refis.
Também em relação às contas externas, embora não seja possível estufar o peito e proclamar resultados satisfatórios, quando o saldo negativo em contas correntes salta quase 50% entre 2012 e 2013, se aproximando de 4% do PIB, o governo tratará de comemorar, no encerramento do ano, uma balança comercial no azul, ainda que nas beiradas do zero a zero. Mas, obedecendo ao seu estilo, não lembrará, entre outras manobras, das "exportações" de plataformas de petróleo que nunca saíram do lugar, mas ajudaram a evitar o primeiro déficit comercial em mais de uma dúzia de anos.
Não são necessários mais exemplos, ainda que muitos outros estejam por aí, para concluir que existe uma desarrumação na contabilidade do conjunto de indicadores brasileiros macroeconômicos. Bem possível, por sinal, que seja esse o maior problema da política econômica do governo Dilma. Assim, embora seja compreensível que os críticos aproveitem a barafunda que se armou para bater na aplicação de modelos de política econômica diferentes daqueles em que acreditam, eles miram no alvo errado.
Se hoje é fácil dizer que linhas de política econômica heterodoxas deram errado, era tão fácil quanto dizer que estavam equivocadas as ações tidas como ortodoxas que levaram aos péssimos resultados dos primeiros anos da década passada.
A verdade é que, sem primeiro limpar as contas dos truques insistentes e liberar os represamentos, recompondo a ordenação natural dos indicadores, nenhum modelo puro de política econômica terá a capacidade de corrigir as distorções provocadas pelas armações.
Acossado pela dupla ameaça de perda do grau de investimento, conferido ao País em 2008 pelas agências de classificação de risco, e da fuga de recursos externos para a economia americana, no momento em que parece se aproximar o início da reversão dos estímulos monetários, nos Estados Unidos, o governo Dilma está diante de um problema que pode ser encarado como oportunidade para promover uma faxina nas gambiarras que, claramente, estão conturbando a administração da economia.
São muitos os que, seguindo o roteiro convencional, contrataram apenas para 2015 a adoção de políticas corretivas, dando de barato que, em ano eleitoral, não se mexe na economia. Nem tanto pelo previsto novo ano de baixo crescimento, mas acima de tudo pela alta probabilidade de um recrudescimento da inflação às vésperas da eleição, pelo menos desta vez poderia ser um pouco diferente. A propósito, não deixa de ser alentador que movimentos na direção de evitar o aprofundamento de tantos erros comecem a dar o ar da graça.
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