Há muitas coisas que seduzem em Londres, mas no ultimo ano o encantamento veio de direção inesperada: o serviço nacional de saúde (NHS).
Sou daquelas que não gosta de ir ao médico. Ao me mudar para Londres, demorei mais de um ano para me registrar com o clínico geral do bairro, coisa que é necessária fazer para poder marcar consultas, pegar receitas médicas, fazer exames ou tratamentos mais complexos.
E mesmo com registro feito, usei muito pouco o NHS. Quando precisei usar parei de falar mal do que nem conhecia e comecei a admirar o serviço que o Reino Unido disponibiliza.
Quando engravidei, fiz todo o pré-natal e tive meu filho em hospital público. Soube de histórias assustadoras, algo que sempre acontece quando as pessoas se dispõem a trocar experiências do mundo da medicina, mas tive uma experiência positiva e satisfatória.
A espera talvez seja o grande senão do NHS. Muitas vezes consultas demoram a ser marcadas, tendo que se esperar chegar uma carta com a data e horário que nos disponibilizam. Tentar mudar o oferecido muita vezes leva a mais meses de espera.
No lado hospitalar, o serviço é até espartano, distante dos toques de hotelaria presentes em hospitais particulares no Brasil, mas no que realmente importa, a medicina, a qualidade do atendimento é muito boa.
Meu filho precisou de algumas consultas depois do nascimento, que se multiplicaram. Foi nessa ciranda pelo NHS que eu pude notar sua excelência, tanto no atendimento quanto na qualidade de seus profissionais, algo notável para um sistema que atende mais de um milhão de pessoas a cada 36 horas.
Na primeira consulta no departamento de fisioterapia infantil meu filho foi filmado para que seus movimentos pudessem ser examinados em detalhe. Depois, todas as semanas íamos até o hospital local para sessões de fisioterapia. Em cada sessão ele era tratado por uma fisioterapeuta, uma terapeuta ocupacional e sua estagiária, coincidentemente uma brasileira, um trio carinhoso e detalhista. Apesar de sair de algumas consultas com o coração apertado, sempre deixava o hospital com a sensação de que faziam o melhor por ele.
Também nos ofereceram a participação num curso em centro especializado, onde oito bebês de diferentes bairros londrinos seriam tratados intensivamente por estudantes de fisioterapia. Meu filho teve a atenção de três estudantes, novamente muito carinhosas e interessadas. E em todos esses casos ninguém falou em pagamento, nota, cheque ou depósito. Tudo gratuito.
Meu filho recebeu alta na semana passada. Sua fisioterapeuta pediu que eu avisasse quando ele começasse a andar e a terapeuta ocupacional quer que ele retorne daqui um ano para poder acompanhar sua progressão.
Então eu digo para quem quiser ouvir que meu discurso mudou. O NHS é excelente e só faz crescer a vontade de continuar por aqui.
Beatriz Portugal é jornalista. Depois de viver em Brasília, São Paulo e Washington, fez um mestrado em literatura na Universidade de Londres e resolveu ficar.
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