A cada ano, mais de 250 mil imigrantes são recebidos no Canadá trazendo na bagagem o sonho e a esperança de encontrar aqui um futuro melhor para suas famílias. E por mais que o país esteja preparado para acolher e orientar os new Canadians – forma politicamente correta de se referir aos imigrantes –, é na configuração de uma casa nova que muitos de nós começa a criar raízes nas cidades e vizinhanças estrangeiras.
A vontade de Julien e Andrea Desrochers de criar raízes na vizinhança Parc-Extension de Montreal não foi motivada pelo desembarque no aeroporto internacional. Foi simplesmente a mudança de vizinhança dentro da sua própria cidade que os levou a estabelecer novos laços e perceber que os new Canadians nem sempre podem acomodar a decoração de um novo lar no orçamento de imigrante.
Parc-Extension é uma das vizinhanças mais multiculturais de Montreal, na qual 62% dos seus residentes nasceram fora do Canadá. Sem laços na nova cidade, uma grande parcela dos residentes de Parc-Ex chega a passar meses sem móveis básicos como uma cama ou mesa de jantar.
Quem é imigrante sabe, demora-se um tempo para criar laços verdadeiros em um novo país, descobrir onde estão as melhores oportunidade e encontrar uma rede de amigos onde todos se ajudam.
Intrigado pela situação de seus novos vizinhos, os Desrochers começaram a narrar a situação dos imigrantes por onde passavam. E muitos que ouviram a história em 2011 decidiram agir e hoje fazem parte da “Meubles et Monde” – uma rede de voluntários que conecta móveis usados e famílias sem recursos para mobiliarem um novo lar.
No primeiro mês de sua fundação, a “Meubles et Monde” entregou 40 móveis em um único dia. Em um ano, 500 itens doados decoram os lares de mais de 70 famílias originadas em mais de 24 países diferentes.
Julien Desrochers e o voluntário Thomas - Foto: Meubles et Monde
Em recente entrevista à rede de TV CBC, Julien mencionou que membros das primeiras famílias ajudadas pelo projeto hoje trabalham transportando os móveis e/ou patrocinam a “Meubles et Monde.”
O grupo ainda luta para obter status de organização não-governamental no Canadá, mas julgando pela determinação dos Desrochers e dos voluntários, a burocracia é a menor das preocupações do grupo. Às vezes, tudo que a gente precisa é força de vontade, alguns bons amigos e coragem de alugar um caminhão para dar esperança a uma família em um novo país.
Veronica Heringer é bacharel em Jornalismo pela PUC-Rio, mestre em Media Production pela Ryerson University e estrategista em marketing digital. Bloga noMadame Heringer.com e escreve para o Blog do Noblat aos domingos.
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