segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - GRAVURAS Francisco de Goya: Elas dizem sim e dão a mão ao primeiro que aparece


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
17.12.2012
 | 12h00m

 Francisco José de Goya y Lucientes nasceu em Fuendetodos, Aragão, próximo de Saragoça, Espanha, no ano de 1746. Seu pai, José Benito de Goya y Franque, de profissão dourador, casou-se com Gracia de Lucientes y Salvador. Como era hábito na Espanha, o nome da mãe era o último no registro.
Pintor e gravurista, Goya é visto como o último dos Clássicos e o primeiro dos Modernos. Suas telas e suas estampas nos relatam a história de seu tempo. Sua criatividade delirante, subversiva, e a maneira diferente, arrojada com que lidava com tintas, pincéis e telas ou com o metal e a ponta seca, fazem com que ele seja reconhecido como um dos quatro artistas que mudaram o rumo da História das Artes, desde que essa é estudada.
Cresceu em Fuendetodos, na casa da família de sua mãe. Em 1749 seus pais compraram uma casa em Saragoça. Goya fez a escola primária nessa cidade. Travou amizade com Martin Zapater e é na correspondência entre os dois amigos, que vai dos anos 1770 a 1790, que os historiadores encontram muitas informações sobre o início da carreira desse fantástico pintor.
Aos 14 anos começa a estudar pintura com José Luzan. Mas lá não fica muito tempo e é encaminhado para Madri, onde estuda com Anton Raphael Mengs, pintor muito popular entre a realeza espanhola.
Goya, logo se vê, não tem o temperamento muito fácil... Entra em choque com o professor e ainda por cima não se sai bem nas provas. Em 1763 e 1776 tenta os concursos trianuais da Real Academia de Belas Artes e é recusado nas duas vezes.
Nesta semana muitas vezes minúscula para falar de um gigante como ele, vou me dedicar à série de gravuras à qual ele deu o nome de Caprichos. São 80 pranchas, vamos nos consolar com uma amostra...
Para compreender Os Caprichos é importante conhecer o contexto social e político daquela época. Eu me vali de um texto exemplar, de Jean-Louis Augé, conservador principal do Museu Goya, 2006, ao qual voltarei nos outros dias:
A Espanha do século XVIII, ferida por uma guerra de sucessão e mutilada em suas ambições, estava muito distante da Espanha de Carlos V e do Século de Ouro.
Após um longo declínio no século XVII, regiões inteiras abandonadas, alguns nobres quase tão pobres quanto o povo, muitos mendigos nas ruas, os empregos uma raridade. A saída dos judeus comprometeu o comercio e com a expulsão dos mouros, em 1611, os serviços mais prósperos ficam desorganizados: os carregadores, os pedreiros, os criadores de animais, os construtores de canais de irrigação, os agicultores, eram mouros...
Inflação galopante, epidemias, corrupção na administração, incúria e ambição de seus dirigentes, a Inquisição que fez reinar o medo, esse o cenário de um dos períodos mais negros da história espanhola.
Criada entre 1797 e 1799, essa coletânea de uma extraordinária riqueza evocativa e grande alcance filosófico, faz uma acusação em regra contra as taras humanas, a superstição, a estupidez, a corrupção, a prostituição, o fingimento, as mentiras dos homens e a cegueira do poder ou da posição que a fortuna lhes confere.
Impregnado pela arte de Rembrandt, Goya consegue, como o mestre flamengo, colocar em sua obra o drama, a emoção e toda a indignação de um homem.
(resumo e tradução mhrrs)

Elas dizem sim e dão a mão ao primeiro que aparece, Capricho nº 2
 
 A jovem entrega ao noivo a mão esquerda e esconde a direita. A máscara negra que lhe cobre o rosto se une à máscara que cobre parte de seus cabelos e que tem a forma de um cão; as máscaras, como em outras gravuras de Goya, servem mais para desmascarar o verdadeiro caráter de quem as usa. A multidão em alvoroço é a que fica na porta das igrejas e das mansões entusiasmada com a festa que não é sua!
É a luxúria o que move esta mulher ao casamento. Mas ali os dois enganam um ao outro. Reparem no olhar e na expressão do noivo. A mãe, interesseira, parece estar pensando no proveito que vai tirar desse matrimônio. O padre, que figura!
detalhe: a mãe, o padre, a noiva e o noivo

O mesmo tema, casamentos de conveniencia, vemos em outras estampas, como esta abaixo: 
Que sacrificio!, Capricho nº14
 
O noivo não é dos mais encantadores, mas a família tem fome e a alcoviteira, entre o pai e a mãe, não os deixa esquecer que é do interesse deles...(detalhe)

El si pronuncian y la mano alargan al primero que llega e Que sacrifício 
águaforte e águatinta, medem 22x 32 cm, acervo Museo Del Prado, Madri
São cerca de 19 as edições das gravuras dos Caprichos, mas há discrepância entre os estudiosos: uma no século XVIII, doze no século XIX e seis no século XX.

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