CARLOS VIEIRA
Onde se encontra a calma plácida dos anos que se perderam no passar do tempo? Será que ainda se brinca de jogo de chimbra, na inocência de uma competição juvenil e despretensiosa? Ainda se vive um encontro marcado, às cinco da tarde, na beira do rio para nadar e sentir o gostinho de ousar atravessar de uma margem à outra. Foi aí que Paulo contraiu esquistosomose, pois era na tardinha que as cercarias pululavam e infectavam.
Que saudade o tempo deixa na memória das cavalhadas. Carlos tinha um cavalo lindo, chamado de “pampa”. Pampa significa castanho com listras brancas. A banda tocava, o apito do chefe de cerimônia autorizava a gente começar a correr, para transpassar a lança pela argola justaposta a uma cordinha linda de colorida. Quando acontecia de ter sucesso, a banda tocava, as garotas da cidade, eternas torcedoras, davam pulos de gritos juvenis. O cavaleiro exitoso ganhava prenda oferecida pela organização da festa folclórica, e a menina de olhos verdes, linda, lindíssima, entregava. O cavaleiro fazia um esforço para tentar beijar seu rosto. Sempre acontecia no dia de São Sebastião, 20 de janeiro. A Banda da cidade tocava um dobrado ou uma valsinha doce, harmônica, com uma melodia suave, tonal e de forma clássica.
Cadê a calma da praça, a praça em frente ao grupo escolar? Os passarinhos se embeveciam com certa elegância, meio nariz empinado, a bicar, olhar, bicar e voltar a olhar. Desconfiados, eles os pássaros, sempre atentos com o desprezo e estupidez de alguma criança.
Os sinos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição anunciavam a missa do cair da tarde de domingo. Henrique, o pequeno e mais importante dos coroinhas se excitava antes do começo do ritual católico. Um dia, descobrimos que ele estava de namorico com Tânia. No momento da comunhão da linda garota, ele encostava a patena no queixinho dela e com um olhar insinuante anunciava o encontro, após a missa, na praça, onde a Bandinha do Mestre Jacó fazia sua retreta dominical com dobrados, chorinhos e valsinhas.
Será que o tempo destruiu, ou melhor, que o “homem-econômico” acabou com a doçura da vida e com a crença na afetuosidade romântica de um tempo de paz?
“Não há mais coisas para viverem conosco. Há, somente, coisas para nos servirem. Não nos podemos demorar diante da paisagem pela simples alegria de a sentirmos bela. É preciso seguirmos o caminho da vida. Mas para onde é que leva essa vida que os homens inventaram? Por que é que os homens acreditam que ela é melhor que a outra, a outra que nasceu de si mesma, que brotou como as fontes e que iria cantando até o mar.” Esse fragmento é a doçura da pena de escrever de Cecília Meireles, compondo prosa poética em seu lindo livro “Episódio Humano”, numa profunda lição existencial que sua crônica nomeava – “Aquele mundo que perdemos...”
Ah! Que saudades do Grêmio Literário! Já não se declama poesia para sublimar a angústia da vida e para pensar a própria experiência humana! Os autores, os nossos queridos autores brasileiros: Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Machado, Drummond, Mário de Andrade, Clarice, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, e um rosário de ícones da literatura brasileira, sem falar nos cânones da literatura universal, são violentamente compactados, espremidos, falseados e liquidificados em “livros compactos” para responder perguntas de vestibular. Longe da ideia de ler, reler para assimilar cultura humanística.
O vento não sopra mais a beleza da cavalhada; da missa em latim e de se ensinar latim nas escolas. O Canto Gregoriano ficou refugiado em poucos mosteiros. A cultura do “jeans” escondeu a beleza do tecido amassado de uma calça ou uma camisa de linho – Braspérola.
Nem tudo está desfeito! O chapéu de “panamá” voltou, viva, viva! A lástima é o preço reservando a poucos a beleza da palha, da fita preta que o envolve circularmente, sem falar no charme dickborgadiano brasileiro.
Termino por hoje uma vez mais, com Cecília Meireles: “Não subimos às árvores para cair...Foi para sentir como os pássaros sentiam e ver como eram as coisas olhadas do alto...”
Que saudade o tempo deixa na memória das cavalhadas. Carlos tinha um cavalo lindo, chamado de “pampa”. Pampa significa castanho com listras brancas. A banda tocava, o apito do chefe de cerimônia autorizava a gente começar a correr, para transpassar a lança pela argola justaposta a uma cordinha linda de colorida. Quando acontecia de ter sucesso, a banda tocava, as garotas da cidade, eternas torcedoras, davam pulos de gritos juvenis. O cavaleiro exitoso ganhava prenda oferecida pela organização da festa folclórica, e a menina de olhos verdes, linda, lindíssima, entregava. O cavaleiro fazia um esforço para tentar beijar seu rosto. Sempre acontecia no dia de São Sebastião, 20 de janeiro. A Banda da cidade tocava um dobrado ou uma valsinha doce, harmônica, com uma melodia suave, tonal e de forma clássica.
Cadê a calma da praça, a praça em frente ao grupo escolar? Os passarinhos se embeveciam com certa elegância, meio nariz empinado, a bicar, olhar, bicar e voltar a olhar. Desconfiados, eles os pássaros, sempre atentos com o desprezo e estupidez de alguma criança.
Os sinos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição anunciavam a missa do cair da tarde de domingo. Henrique, o pequeno e mais importante dos coroinhas se excitava antes do começo do ritual católico. Um dia, descobrimos que ele estava de namorico com Tânia. No momento da comunhão da linda garota, ele encostava a patena no queixinho dela e com um olhar insinuante anunciava o encontro, após a missa, na praça, onde a Bandinha do Mestre Jacó fazia sua retreta dominical com dobrados, chorinhos e valsinhas.
Será que o tempo destruiu, ou melhor, que o “homem-econômico” acabou com a doçura da vida e com a crença na afetuosidade romântica de um tempo de paz?
“Não há mais coisas para viverem conosco. Há, somente, coisas para nos servirem. Não nos podemos demorar diante da paisagem pela simples alegria de a sentirmos bela. É preciso seguirmos o caminho da vida. Mas para onde é que leva essa vida que os homens inventaram? Por que é que os homens acreditam que ela é melhor que a outra, a outra que nasceu de si mesma, que brotou como as fontes e que iria cantando até o mar.” Esse fragmento é a doçura da pena de escrever de Cecília Meireles, compondo prosa poética em seu lindo livro “Episódio Humano”, numa profunda lição existencial que sua crônica nomeava – “Aquele mundo que perdemos...”
Ah! Que saudades do Grêmio Literário! Já não se declama poesia para sublimar a angústia da vida e para pensar a própria experiência humana! Os autores, os nossos queridos autores brasileiros: Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Machado, Drummond, Mário de Andrade, Clarice, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, e um rosário de ícones da literatura brasileira, sem falar nos cânones da literatura universal, são violentamente compactados, espremidos, falseados e liquidificados em “livros compactos” para responder perguntas de vestibular. Longe da ideia de ler, reler para assimilar cultura humanística.
O vento não sopra mais a beleza da cavalhada; da missa em latim e de se ensinar latim nas escolas. O Canto Gregoriano ficou refugiado em poucos mosteiros. A cultura do “jeans” escondeu a beleza do tecido amassado de uma calça ou uma camisa de linho – Braspérola.
Nem tudo está desfeito! O chapéu de “panamá” voltou, viva, viva! A lástima é o preço reservando a poucos a beleza da palha, da fita preta que o envolve circularmente, sem falar no charme dickborgadiano brasileiro.
Termino por hoje uma vez mais, com Cecília Meireles: “Não subimos às árvores para cair...Foi para sentir como os pássaros sentiam e ver como eram as coisas olhadas do alto...”
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.
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