quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A CASA DO JOALHEIRO ANTONIO BERNARDO



ARQUITETURA     POR CVONLINE - 04/09/2011

Coincidências marcam a história da casa de campo da família do designer de joias carioca Antonio Bernardo Herrmann em Itaipava, na região serrana do Estado do Rio de Janeiro. A construção fica no Vale da Boa Esperança ? e Boa Esperança era o nome de uma das fazendas da família de sua mãe, Lydia Gonçalves Herrmann, 97 anos. A propriedade é cortada por um rio chamado Jacó. Este era o nome do bisavô de Lydia. Erguida nos anos 1970 pelo mestre da madeira Zanine Caldas (1919-2001), a casa é o símbolo da reverência de uma família à natureza e do resgate da vivência de um casal.
?Para mim, a casa representa o meu pai e minha mãe?, diz Antonio Bernardo, que, com as irmãs Hanny e Bianca, empresárias, e Vera, economista, divide os negócios ? a rede de 17 joalherias Antonio Bernardo espalhadas pelo país ? e os momentos de relaxamento em fins de semana e feriados neste refúgio serrano. ?Esta casa foi comprada num momento muito feliz da família, por isso traz algo de bom, de positivo.?
A casa foi adquirida da paisagista carioca Maria Haydée Pinto Guimarães. Tem um paisagismo rico e bem-cuidado, mantido como na época da compra. Às pedras originais reunidas no local, somam-se áreas de interesse criadas por Maria Haydée, como a alameda dos pinheiros e outros recantos. Essa configuração deu ao jardim ares orientais. Ali, veem-se ipês-brancos, quaresmeiras, buganvílias, bromélias, estrelítzias e costelas-de-adão, entre outras espécies.
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Assentada sobre rochas, a casa está em um terreno que não sofreu nenhuma intervenção ? uma das preocupações do arquiteto Zanine, que absorvia respeitosa e magistralmente a natureza em seus projetos. Madeira, pedra e vidro formam a construção de linhas simples, com pouca alvenaria de tijolos. Frente e fundos são envidraçados, o que permite a entrada de luz e a visão do verde. A sala com chão de tábuas corridas tem, numa extremidade, a porta de entrada de madeira de demolição, vinda de uma antiga igreja e, na outra, dois dormitórios, com armários de pinho-de-riga, que se abrem para a paisagem. Ainda no estar, ficam a varanda e o jardim de inverno. Uma escada leva ao piso inferior, onde estão a cozinha e a sala de jantar.
?Compramos a casa de porteira fechada, com todos os móveis dentro?, afirma o designer. Também pudera: a mobília é quase toda assinada por Sergio Rodrigues, com sofá e poltronas Mole e Kilin. Uma Thonet de balanço e móveis mineiros casam perfeitamente com o piso de madeira ou pedras de demolição. ?Não havia guarda-corpo nas escadas para os quartos nem para a sala de jantar?, conta Antonio Bernardo. Os guarda-corpos chegaram dois anos mais tarde, em uma iniciativa que englobou a construção de uma casa de hóspedes de 150 m², com dois andares e três dormitórios, e de uma churrasqueira, na área externa, pela equipe do escritório de Zanine. Um reforço para assegurar o conforto dos irmãos Herrmann, já com muitos filhos e netos.
Há outros atrativos no jardim, como o poço natural formado pelo rio Jacó e o orquidário que abastece o jardim de inverno. O designer que explora o movimento e a gênese em suas joias é um aficionado das orquídeas. ?Gosto de produzir coisas, de ver a transformação delas?, observa. De 1 x 1 m, o orquidário que nasceu com uma só espécie passou a 3 x 3 m. Hoje, são 30 m² e cerca de 300 tipos. A paixão estendeu-se a outros domínios. Faz dez anos que a empresa Antonio Bernardo é mantenedora do Orquidário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com uma coleção de 800 espécies.
A transformação faz parte da trajetória do designer. Aos 4 anos, na oficina do colégio que frequentou na Suíça, ele pegou pedaços de madeira e criou um barco. Sua primeira joia é dos anos 1970. A partir dela, imaginou a segunda ? e chegou a fazer, recentemente, uma grande luminária-brinco para a Lumini. Ele nem imaginava o quanto o trabalho do seu pai o influenciava. Rudolf era dono da Cronômetro Federal, aberta em 1948 no número 48 da rua Senhor dos Passos, centro do Rio. Essa loja importava e revendia fornituras e ferramentas para ourives e relojoeiros, um mundo que levou Antonio Bernardo a ser o que é hoje. São mais coincidências na vida do designer que, em sua cobertura, no Leblon, imprimiu um pouco do espírito da casa de Itaipava: ?Lá, também tenho um jardim lindo?. (ARTUR DE ANDRADE)
* Matéria publicada em Casa Vogue #313

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