quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Reflexões sobre Roberto Jefferson, um político realmente singular, de caraterísticas únicas.


Carlos Newton

É estranho esse visual do ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, que se tornou uma figura longilínea e esbelta. Desde jovem, ele nunca foi magro. Iniciava-se como advogado em Petrópolis e foi gordinho que acabou se tornando uma personalidade pública na década de 80, ao participar do programa diário “O Povo na TV”, no SBT, criado e dirigido por Wilton Franco, com estrondoso sucesso.
Roberto Jefferson recebe alta do Hospital Samaritano no Rio
Reprodução: foto Marcelo Fonseca, no site de O Globo
Jefferson aparecia dando opiniões jurídicas nos casos relatados pelos entrevistados do programa, que envolviam as mais diferentes situações, desde defesa do consumidor até violência doméstica, corrupção, estelionato e tudo o que mais aparecesse. Ficou instantaneamente famoso.
Filho e neto de políticos do antigo PTB de Vargas, Jefferson entrou oficialmente na vida pública em 1071, quando se filiou ao MDB. Permaneceu no partido até 1979, quando entrou no PDS, mas um ano depois se filiava ao PTB, partido pelo qual se elegeu deputado federal de 1982 a 2002, sendo cassado em setembro de 2005 por causa do mensalão.
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38 NA CINTURA
Volumoso e truculento, na Constituinte Jefferson circulava seus 160 quilos pela Câmara, portando um 38 na cintura. Com justa razão, todos tinham medo dele. Naquela época a imunidade parlamentar permitia que os parlamentares fizessem tiro ao alvo nos outros, quando bem entendessem. Não lembro de nenhum outro político que andasse armado na Constituinte e o último fato desse tipo envolvera Sarney em 1984, ao botar um revólver na cintura quando foi deixar o PDS e criar o PFL com Aureliano Chaves, Marco Maciel e outros.
No 1° turno da eleição presidencial de 2001, Jefferson levou o PTB a apoiar Ciro Gomes (então no PPS). E no 2° turno da mesma eleição, apoiou o candidato vitorioso Lula contra Geraldo Alckmin (PSDB). Como presidente do PTB, Jefferson conduziu a aliança com o PT nas capitais para as eleições de 2004. Em troca, o PT ajudaria financeiramente o PTB.
Em 2005, a revista Veja divulgou o suposto envolvimento de Roberto Jefferson num escândalo de corrupção nos Correios. Com a iminência de uma CPI no Congresso, Jefferson se sentiu traído pelo PT e denunciou a compra de deputados federais da base aliada, prática que ficou conhecida como mensalão. Jefferson admitiu que a ajuda incluiu uma quantia de US$ 4 milhões não declarada à Justiça Eleitoral – o que caracteriza crime tanto do PTB quanto do PT.
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KAMIKASE POLÍTICO
Jefferson surpreendeu o país ao denunciar o mensalão. Jogou fora sua carreira, perdeu o mandato conquistado nas urnas, mas liquidou com o Rasputin do governo Lula, o chefe da Casa Civil José Dirceu.
Há sete anos está praticamente fora da política, embora ainda continue a ser presidente do PTB, criando um curioso precedente de cidadão sem direitos políticos que comanda um partido nacionalmente.
Perdeu o mandato e a saúde. Ao deixar na tarde de quarta-feira o Hospital Samaritano, em Botafogo, onde permaneceu internado por quase uma semana, Jefferson disse que não deixou de acompanhar o julgamento em Brasília:
- Essa é a fase decisiva do julgamento. É muito angustiante e cruel, mas faz parte da democracia. Fico acompanhando as reportagens, alguns citam inclusive projeções sobre as penas que poderão ser aplicadas. É um momento delicado, mas espero que chegue logo ao fim – disse ao repórter Sergio Ramalho, do Globo.
Jefferson é um dos que vai cumprir pena por corrupção passiva. É curioso que não consiga ser beneficiado pelo instituto da delação premiada. Mas não há dúvida de que prestou um grande serviço público ao revelar como funcionam os bastidores da apodrecida política brasileira. E vida que segue, como dizia o grande João Saldanha, que tanta falta nos faz.

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