terça-feira, 21 de agosto de 2012

Dois ministros de Dilma apoiam réu João Paulo



Único réu do mensalão a participar das eleições municipais deste ano, João Paulo Cunha ganhou a adesão de dois ministros de Dilma Rousseff. Candidato do PT à prefeitura de Osasco, o deputado veiculou em seu site o apoio dos ministros Aldo Rebelo (Esportes) e Miriam Belchior (Planejamento).
Filiada ao PT, Miriam associou-se à candidatura de João Paulo num vídeo. A peça foi levada à página eletrônica da campanha na sexta-feira (17). Na véspera, o relator do mensalão no STF, Joaquim Barbosa, votara pela condenação do candidato. Enquadrara-o em três crimes: corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.
Expoente do PCdoB, Aldo visitou Osasco, cidade assentada na região metropolitana de São Paulo, no sábado (18). Participou da inauguração de um comitê eleitoral. Discursou para cerca de 300 pessoas. Nesta segunda (20), o virou notícia no site do candidato: “Ministro Aldo Rebelo declara apoio a João Paulo…”
Acossada por uma onda de greves do funcionalismo iniciada há mais de três meses, a companheira Miriam enaltece no vídeo pró-João Paulo “o modo petista de governar”. Cita Lula e Dilma. Diz que, sob ambos, “o país melhorou a economia, criou mais empregos e criou estratégias para aumentar o salário mínimo todos os anos”.
A certa altura, a ministra declara que “Osasco também sabe o que é ser governador pelo PT.” Afirma que “é muito importante eleger o João Paulo Cunha prefeito da cidade.” Por quê? Segundo ela, “onde o PT governa dá certo.” Se o voto do ministro Barbosa prevalecer, o STF informará coisa diferente nos próximos dias.
João Paulo governava os negócios da Câmara na época do mensalão. Sob sua presidência, a Casa firmou contrato com a SMP&B, agência de publicidade que tinha Marcos Valério como sócio. De acordo com Barbosa, o contrato resultou em desvio de verbas públicas e rendeu a João Paulo “propina” de R$ 50 mil.
No discurso proferido em Osasco, Aldo Rebelo fez alusão indireta ao escândalo que tisnou o primeiro reinado de Lula. Deu-se no instante em que o ministro enalteceu a megacoligação partidária que dá suporte à candidatura de João Paulo. Coisa de 20 legendas.
“Não há democracia profunda e verdadeira que possa ser exercida sem a presença e participação dos partidos”, disse o ministro. “A candidatura do João Paulo expressa a valorização de uma política democrática que pode permitir mudanças e transformações sociais.”
Aldo emendou: “A política pode ter muitos defeitos, mas também é vítima do ataque de corporações poderosas, exatamente porque é onde o povo pode realmente participar.” Na frase seguinte, o ministro insinuou que as corporações da mídia vitimam o réu de Osasco: “O povo escolhe um vereador, um prefeito, um deputado, mas não pode escolher um editor de um jornal, por exemplo.”
Curiosamente, Aldo é formado em jornalismo. Entre 2004 e 2005, época em que corriam no Congresso as valerianas que azeitavam o apoio ao governo, ele ocupava a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência. Estava presente à reunião em que o delator Roberto Jefferson informou a Lula sobre a existência do mensalão.
Em depoimento escrito anexado aos autos do STF em abril de 2010, Lula admitiu ter participado da reunião. Ocorreu, segundo ele, no primeiro semestre de 2005. “Solicitei ao Aldo e ao Arlindo [Chinaglia, então líder do governo na Câmara] que verificassem se as afirmações [de Jefferson] procediam”, anotou Lula na peça que consta do processo.
Na semana passada, ao defender Jefferson no Supremo, o advogado Luiz Francisco Barbosa fez troça da “investigação” conduzida por Aldo e Chinaglia. Durou, segundo ele, “20 segundos”. A julgar pelo apoio que concede ao réu João Paulo, Aldo até hoje continua convencido de que nada de anormal sucedeu naquela época.

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