CARLOS VIEIRA
“No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.”
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.”
Só a genialidade de um poeta, e de um poeta como Carlos Drummond de Andrade, pode encerrar tantos significados num poema “simples”.
Lendo e relendo o poema do Itabirano, sou tomado de uma inquietação diante do simples, que chamo de profundo; de um poema aparentemente banal, severamente criticado, matéria de galhofa, após sua publicação, que intui, numa frase: “no meio do caminho tinha uma pedra”, questões filosófica, simbólica e existencial. Drummond achou o poema um “texto insignificante, um jogo monótono, deliberadamente monótono, de palavras que causasse tanta irritação...”
Em seu caderno de poemas manuscritos enviado a Mário de Andrade, que reunia, sob o título “Minha terra tem palmeiras”, parte representativa dos textos que seriam aproveitados em Alguma Poesia, entre eles estava, “No meio do caminho”. Mais tarde, na época do Modernismo, a Revista de Antropofagia abria seu número de julho de 1928, publicando o poema em sua primeira página. O poema se transformou em um livro – “Um pedra no meio do caminho” – Biografia de um Poema, seleção e montagem de Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1967.
O leitor interessado encontra todas essas informações, e todas as questões que envolveram o Poeta como desdobramento da publicação do seu poema, em livro Editado pelo Instituto Moreira Salles e lançado em 2010, São Paulo: Carlos Drummond de Andrade - Uma Pedra no Meio do Caminho – Biografia de um poema. Edição Ampliada por Eucanaã Ferraz.
“Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas”, diz Carlos em seu poema, Um fato isolado, uma observação de poeta, a intuição de um pensador: sempre vai existir na vida de qualquer pessoa uma pedra no caminho.
Nossa vida é imprevisível, e feita de experiências parcialmente “controladas”, e sua maior de vivências imponderáveis. Uma pedra no meio de caminho começa com a possibilidade ou não de sobrevivermos após o nascimento. Se nas “retinas fatigadas” do nosso poeta, a pedra foi acontecimentos, ficaram pelo resto da vida em sua memória. Vivemos de lembranças de “traumas”, de experiências dolorosas em nossas vidas. Experiências inéditas, imponderáveis, que atropelaram um caminho alucinado, somente de prazer, de satisfação. Não! Nossa vida é feita também de obstáculos às realizações desejadas, e aí surge “a pedra no meio do caminho”. Há quem afirme que grandes mudanças são consequências de escolhas criativas nas “encruzilhadas da vida”.
De repente! A pedra no caminho! E aí? O nosso Eu tem uma bela capacidade de adaptação diante de situações adversas. No entanto, também diante das “pedras no caminho”, ficamos frustrados demais, feridos em nossa vaidade, em nossa “fantasia de onipotência”, e aí resolvemos a bater na “pedra” como que dá murro em ponta de faca.
Pessoas, com impossibilidade de tolerar o sofrimento e o desapontamento ficam burras, estúpidas, psicóticas, enraivecidas, feridas, magoadas e ressentidas. O poeta repetia a frase, aparentemente banal, ridícula e monótona. Repetia num pequeno poema, onde a tônica foi: existe uma pedra no meio do caminho. Repetia o que tem de ser repetido sem ser uma obsessão, mas um conselho: nossa vida sempre mostrará uma “pedra no meio do caminho” para que possamos crescer, desenvolver, ser criativos diante da adversidade. A resposta fica com o próprio Carlos Drummond em seu poema: “Dados biográficos”.
Lendo e relendo o poema do Itabirano, sou tomado de uma inquietação diante do simples, que chamo de profundo; de um poema aparentemente banal, severamente criticado, matéria de galhofa, após sua publicação, que intui, numa frase: “no meio do caminho tinha uma pedra”, questões filosófica, simbólica e existencial. Drummond achou o poema um “texto insignificante, um jogo monótono, deliberadamente monótono, de palavras que causasse tanta irritação...”
Em seu caderno de poemas manuscritos enviado a Mário de Andrade, que reunia, sob o título “Minha terra tem palmeiras”, parte representativa dos textos que seriam aproveitados em Alguma Poesia, entre eles estava, “No meio do caminho”. Mais tarde, na época do Modernismo, a Revista de Antropofagia abria seu número de julho de 1928, publicando o poema em sua primeira página. O poema se transformou em um livro – “Um pedra no meio do caminho” – Biografia de um Poema, seleção e montagem de Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1967.
O leitor interessado encontra todas essas informações, e todas as questões que envolveram o Poeta como desdobramento da publicação do seu poema, em livro Editado pelo Instituto Moreira Salles e lançado em 2010, São Paulo: Carlos Drummond de Andrade - Uma Pedra no Meio do Caminho – Biografia de um poema. Edição Ampliada por Eucanaã Ferraz.
“Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas”, diz Carlos em seu poema, Um fato isolado, uma observação de poeta, a intuição de um pensador: sempre vai existir na vida de qualquer pessoa uma pedra no caminho.
Nossa vida é imprevisível, e feita de experiências parcialmente “controladas”, e sua maior de vivências imponderáveis. Uma pedra no meio de caminho começa com a possibilidade ou não de sobrevivermos após o nascimento. Se nas “retinas fatigadas” do nosso poeta, a pedra foi acontecimentos, ficaram pelo resto da vida em sua memória. Vivemos de lembranças de “traumas”, de experiências dolorosas em nossas vidas. Experiências inéditas, imponderáveis, que atropelaram um caminho alucinado, somente de prazer, de satisfação. Não! Nossa vida é feita também de obstáculos às realizações desejadas, e aí surge “a pedra no meio do caminho”. Há quem afirme que grandes mudanças são consequências de escolhas criativas nas “encruzilhadas da vida”.
De repente! A pedra no caminho! E aí? O nosso Eu tem uma bela capacidade de adaptação diante de situações adversas. No entanto, também diante das “pedras no caminho”, ficamos frustrados demais, feridos em nossa vaidade, em nossa “fantasia de onipotência”, e aí resolvemos a bater na “pedra” como que dá murro em ponta de faca.
Pessoas, com impossibilidade de tolerar o sofrimento e o desapontamento ficam burras, estúpidas, psicóticas, enraivecidas, feridas, magoadas e ressentidas. O poeta repetia a frase, aparentemente banal, ridícula e monótona. Repetia num pequeno poema, onde a tônica foi: existe uma pedra no meio do caminho. Repetia o que tem de ser repetido sem ser uma obsessão, mas um conselho: nossa vida sempre mostrará uma “pedra no meio do caminho” para que possamos crescer, desenvolver, ser criativos diante da adversidade. A resposta fica com o próprio Carlos Drummond em seu poema: “Dados biográficos”.
“Mas que dizer do poeta/ numa prova escolar?
Que ele é meio pateta/ e não sabe rimar?
...Que encontrou no caminho
Uma pedra, e, estacando,
Muito riso escarninho
O foi logo cercando?
Que apesar dos pesares
Conserva o bom humor,
Caça nuvens nos ares,
Crê no bem e no amor?”
Que ele é meio pateta/ e não sabe rimar?
...Que encontrou no caminho
Uma pedra, e, estacando,
Muito riso escarninho
O foi logo cercando?
Que apesar dos pesares
Conserva o bom humor,
Caça nuvens nos ares,
Crê no bem e no amor?”
Esperemos que os ministros do Supremo Tribunal Federal tenham criatividade para lidar com “a pedra no meio do caminho”.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.
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