quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Padre Vito Miracapillo consegue visto permanente no Brasil


Posted: 05 Sep 2012 03:07 AM PDT
Miracapillo enfrentou a ditadura
JC Online

Seis meses depois de conseguir o visto provisório e retornar ao Brasil pela primeira vez depois de 31 anos, o padre italiano Vito Miracapillo, extraditado durante a Ditadura Militar, está no Recife para receber seu visto definitivo de permanência no Brasil.

Apesar disso, a estada do religioso ainda não é definitiva. Problemas burocráticos dentro da Igreja o impedem de transferir-se definitivamente de Andria, no sul da Itália, para Palmares, de onde foi retirado 32 anos atrás.

O padre pretende aproveitar a passagem pelo Brasil para se reunir com autoridades eclesiásticas, como o arcebispo de Olinda e Recife dom Fernando Saburido e membros da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para tentar agilizar sua transferência. “Se dependesse de mim eu já estaria aqui desde janeiro”, revelou o religioso. O que atrapalha a vinda do padre é a dificuldade de conseguir um substituto para suas funções como pároco de Canosa e responsável pelo serviço social da diocese de Andria.

O padre antecipou também que acaba de finalizar um livro que será uma sequência do seu “O caso Miracapillo”. Intitulado provisoriamente de “O caminho de volta”, o livro vai contar a luta do padre para conseguir o direito de voltar ao Brasil e pretende “restabelecer a história” de sua saída em setembro de 1980.

Relembre o Caso

Vermelho

Ele era vigário na cidade de Ribeirão (Diocese de Palmares, PE) entre 1975 e 1980, e desenvolveu intensa atividade em defesa dos moradores, grande parte deles trabalhadores de cana-de-açúcar. Este foi o motivo de sua expulsão, em 1980, mesmo tendo havido forte campanha entre os setores democráticos e progressistas por sua permanência no Brasil.

O estopim para a expulsão foi sua recusa em celebrar duas missas em praça pública que a prefeitura local, com apoio dos militares e dos setores conservadores, queria impor ao sacerdote, uma delas pelo 7 de setembro, e outra pelo aniversário da emancipação do município de Ribeirão.

O padre justificou sua decisão dizendo, na época, que não celebraria aquelas missas “por vários motivos, entre os quais a não efetiva independência do povo, reduzido à condição de pedinte e desamparado em seus direitos”. Ele celebrou missas naqueles dias, mas fora da programação política que a prefeitura e a oligarquia local queriam lhe impor.

Foi apoiado pela CNBB nessa decisão mas, mesmo assim, foi denunciado ao ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel pelo então prefeito, Salomão Correia Brasil (PDS, o partido da ditadura), acusado de afronta à pátria. A expulsão foi confirmada pelo STF (Superior Tribunal Federal) por 11 votos a zero.

A devolução de seu visto de permanência foi comemorada pela CNBB e restaura uma grave violação comemtida pela ditadura militar contra um sacerdote que se destacou na luta pela democracia e pelos direitos do povo e dos trabalhadores.

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