segunda-feira, 25 de março de 2013

ERASMO E TOLSTOI



Laurence Bittencourt (1)
Ouvir Erasmo Carlos é como se sentir pertencente a um grupo. Claro que o Rei é o outro, Roberto Carlos, doce, meigo, carinhoso, amoroso. Mas Erasmo é tudo isso e algo mais. Traz consigo um desconforto em relação ao mundo que toca de perto quem já confrontou os dilemas desse mundo chamado de social.
Erasmo Carlos e Lev Tolstoj
Erasmo Carlos e Lev Tolstoj
Erasmo é o tremendão. Pouco afeito a mídia, a não ser o indispensável, muito mais voltado para o reconhecimento do seu desejo do que para o desejo de ser reconhecido, o que aponta uma diferença enorme no mundo da música e da mídia. Nunca se incomodou em ser o segundo da dupla mais famosa do país. O que já mostra um traço de caráter rico e singular.
Quando escuto Erasmo lembro sempre de Tolstói. Como? Perguntarás. O que um cantor de música popular tem a ver com um dos maiores escritores (e difícil) russos de todos os  tempos? Muito, muito a ver. Lembrei agora a frase de Hemingway a Scott Fitzgerald sobre os “ricos”: “eles tem os mesmos problemas que nós, a única diferença é que tem mais dinheiro”.
Bom, mas ouvir Erasmo é lembrar-se de um dos personagens mais famosos de uma das novelas de Tolstói, “Anna Karenina”. A rebeldia do desejo na ponta do suicídio.
O que termina acontecendo, na novela. Tolstói na sua segunda fase renegou os próprio escritos e mergulhou no primitivismo cristão, buscando uma forma de redenção pessoal, para ir contra o próprio talento em desvendar o que há de insano no humano, de pérfido, de inumano, de soberba.
Tolstói claro ficou imortalizado como escritor, e a sua segunda fase voltada obsessivamente para a salvação da alma, é pouco conhecida do público, inclusive na academia. Isso mostra apenas quão complexo é o humano, e como aquilo que desvendou enquanto escritor faz parte do cotidiano de todos nós.
Mas voltando a sua personagem comecei a entender melhor “Anna Karenina” quando li uma afirmação da historiadora Elizabeth Rodinesco que Sócrates, o filosofo, era um suicida e masoquista. A personagem de Tolstói tem uma alma socrática. Impulsiva, não fazendo barreira ao principio do prazer, negando a realidade. Lança-se no precipício em nome do amor. Mas a realidade cobra sua fatia nessa história. Tolstói retrata isso com uma força que só os grandes mestres são capazes.
Erasmo e Tolstói estão juntos. Sorte Erasmo não renegar sua veia artística, nos brindando com sua criatividade. Como escrevei certa vez o tremendão, “o coração de deus é feminino, capricho do destino”.
(1) Jornalista laurenceleite@bol.com.br

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