Existe uma impressão geral de que Brasil e Argentina são adversários por conta de um choque de visões sobre a região e também pela disputa por uma hegemonia na AL. Em que pese sempre ter havido ruídos nas relações entre os dois países, a realidade é outra. O que existe é uma relação estratégica que se consolida com o passar dos anos. E deve ser assim.
Como bem lembrou o professor Amado Cervo, em evento na presidência da República em 2006, desde o início do século passado a Argentina é um dos cinco maiores parceiros comerciais do Brasil. Periodicamente, houve ajustes profundos e relevantes entre muitos de seus presidentes. A criação do Mercosul foi uma obra conjunta do Brasil e da Argentina.
Criticado por muitos e considerado decadente, o bloco econômico foi responsável por um extraordinário incremento nas relações entre as nações da América do Sul.
Vale lembrar que, em 1999, o comércio entre o Brasil e os países signatários do acordo movimentou pouco mais de US$ 13 bilhões. Em 2011, o intercâmbio envolveu mais de US$ 45 bilhões.
Entre 2000 e 2011, o Brasil obteve superávit no comércio com o Mercosul em, pelo menos, oito anos. Com a Argentina, temos obtido relevantes superávits desde 2004.
É evidente que uma relação entre países tão próximos geograficamente, estratégica sob vários ângulos, não deve carregar tantas assimetrias por tanto tempo. Não interessa, como brasileiro, que nossa riqueza decorra do prejuízo do vizinho. Não há sucesso regional sem a certeza de que Brasil e Argentina tenham uma relação profícua, justa e generosa.
Uma iniciativa extraordinária que pouco destaque ganhou na imprensa e no meio político, frente à sua importância, foi a Rodada de Negócios Brasil-Argentina, organizada na Fiesp em setembro. O objetivo era promover a substituição de importações brasileiras de terceiras origens por produtos argentinos.
O evento foi organizado depois que a entidade constatou, em pesquisa, que a principal razão de as empresas brasileiras não estarem comprando mais produtos argentinos era o desconhecimento sobre a existência de fornecedores no país vizinho.
O desconhecimento do que é a Argentina para o Brasil e do que pode ser o Brasil para a Argentina é um dos grandes obstáculos ao entendimento entre os dois maiores países da região.
Temos muito a saber um do outro, o que pode resultar na intensificação de nossas trocas comerciais e culturais.
Interessa à região que Brasil e Argentina, que possuem mais de 60% do território e da população da América do Sul, incrementem as trocas comerciais, bem como os investimentos empresariais e em infraestrutura.
Interessa à região que Brasil e Argentina, que possuem mais de 60% do território e da população da América do Sul, incrementem as trocas comerciais, bem como os investimentos empresariais e em infraestrutura.
É necessário focalizar cada vez mais a relação sob a perspectiva da integração equilibrada das nossas cadeias produtivas com vistas a aproveitar adequadamente e maximizar em benefício recíproco as vantagens comparativas de cada um. Poucos países no mundo apresentam complementaridades tão extensas como o Brasil e a Argentina.
A chave do sucesso será a harmonização dos interesses e o ponto central está no aprofundamento das relações entre brasileiros e argentinos.
Longe do calor e da superficialidade do noticiário, já ocorrem iniciativas relevantes no âmbito da ciência e da tecnologia. As rodadas da Fiesp representam uma excepcional iniciativa e espero que permaneçam promissoras.
Os fracassos da União Europeia não devem servir de motivo para arrefecimento nas tratativas da integração regional. Ao contrário, devemos aprender com os acertos e os erros dos europeus e seguir adiante. A solução para os eventuais problemas do Mercosul é “mais” Mercosul; jamais “menos” Mercosul.
Murillo de Aragão é cientista político
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