Quando você é convidado para um jantar na França, raramente você vai se deparar com um buffet onde você pode se servir à vontade. Normalmente as quantidades são pensadas para servir exatamente o número de pessoas convidadas e não é raro que os anfitriões dividam o bolo de chocolate da sobremesa em partes milimetricamente iguais para todos os presentes.
O objetivo é que não sobre nada! Nem uma cerejinha do bolo (aqui descobri que ela pode ser dividida em até quatro partes)! Tudo deve ser consumido.
Anos de privações causados por inúmeras guerras moldaram o comportamento dos franceses à mesa. Por isso mesmo eu achava que eles estavam entre os povos que menos desperdiçavam alimentos no mundo. Doce ilusão, os franceses, como todo mundo civilizado, jogam muita comida fora.
Segundo um relatório do Urban Food Lab para o ministério da Agricultura, 2.317.057 toneladas de comida são desperdiçadas por ano nos supermercados franceses e 1.562.400 tonelada nos restaurantes. Em casa, o desperdício é de 79 kg por pessoa por ano.
Mas como todo povo civilizado que se preze, os franceses estão se mobilizando para acabar com este desperdício. Neste sábado um almoço gigante será servido na praça em frente à Prefeitura de Paris utilizando somente alimentos que acabariam no lixo.
Além do almoço, alguns chefes de cozinha estarão por lá dando receitas e dicas para aproveitar aqueles alimentos que ficam meses no fundo da geladeira e acabam no lixo. O evento já foi realizado em outras cidades como Berlim e Londres.
'Freegans' em ação
O tema do desperdício alimentar é recorrente na França e na Europa. O movimento “freeganismo”, que preconiza a alimentação com produtos encontrados no lixo, ganha cada vez mais adeptos e a União Europeia quer que 2014 seja o ano contra o desperdício alimentar.
O almoço de sábado é só o começo de uma maratona para a sensibilização sobre o problema. Só que desta vez não é a guerra que faz os franceses mudarem sua maneira de consumir, mas a crise.
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.
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