01/09/2012
Ralph J. Hofmann
Em 1993 viajei para a África do Sul, meu país natal, devido a compromissos profissionais. Estivera sem voltar por muitos anos. O país estava eufórico com Nelson Mandela recém no poder. Eu também me entusiasmei. Mandela claramente era um líder absolutamente diferente. Um governante que conseguira atingir um patamar como pessoa absolutamente única para a época.
Conversando com pessoas, na fábrica onde estava fazendo um trabalho, na rua, no táxi todos diziam. Tem de dar certo, vai dar certo.
E certamente sob Mandela as mágoas do passado entre as diferentes raças foram deixadas de lado. Os problemas da África do Sul hoje não dizem respeito a conflitos antigos oriundos do regime de força do Partido Nacionalista. Ou ao menos, estes problemas se ainda existem não são de dimensão suficiente para ter alguma influência negativa de impacto sobre o progresso do país.
Mandela não nos desapontou, nem aos sul-africanos nem aos seus admiradores no resto do mundo.
Contudo foi prisioneiro de outro tipo de lealdade. A lealdade aos ativistas que com ele compartilharam os anos de prisão e clandestinidade. No caso especificamente, seu sucessor foi Thabo Mbeki, filho de um seu companheiro de clandestinidade, essencialmente treinado nas escolas russas para africanos, que são da fato escolas de política, mas não de administração.
Já nos primeiros meses do governo do ANC (African National Congress – partido político majoritário) foi possível constatar que haveria alguma coisa de podre se estabelecendo junto com o governo. Lembro que ainda em 1993 soube numa reunião em casa de amigos que um ministério havia mandado alugar 20 automóveis Mercedes Benz para o governo. Os Mercedes Benz foram apanhados por pessoas com credenciais. Depois disto nunca foram mais vistos.
Notei que de repente, nas margens dos anéis rodoviários do estado de Gauteng estavam aparecendo de um dia para outro favelas. Estas favelas não são comparáveis a nossas favelas do Brasil. São incomparavelmente mais primitivas, feitas essencialmente de latas e zinco. Johannesburgo/Gauteng está a 1800 metros de altitude. A água congela nos tanques no inverno.
Soube que as pessoas abandonavam suas terras tribais para vir à cidade em busca de emprego. E se estabeleciam em qualquer terra pública. As velhas vilas e cidades segregadas como Soweto tinham uma certa organização e hierarquia funcional local. Estas não. E ainda mais, mais da metade dos que ali chegavam não eram sul-africanos. Vinham da Swazilândia, do Kenya, Uganda ou Zimbabwe.
Sempre houve migrantes do resto da África mas seu afluxo era controlado e tinha uma proporção com os empregos disponíveis. Hoje o Eldorado do sul da África ainda é o país com mais empregos disponíveis, mas passa por algumas crises econômicas, que afetam a disponibilidade de trabalho.
O governo do ANC agora não aplica sanções, contra os forasteiros e também não policia rigorosamente os bairros mais pobres, comprometido com a idéia de não ser repressor.
O resultado são regiões onde vigora a lei do mais forte e do vigilante, com ocasionais linchamentos de pessoas. Basta alguém apontar o dedo gritar “esse zimbabweano roubou meu telefone” para desencadear uma cena de linchamento com morte.
Fato é que existem dois países num só. O país que funciona em cima da legislação anglo-holandesa que foi mantida após o fim do “apartheid” e um país selvagem, que lembra o Haití em seus piores momentos.
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