Em décadas de jornalismo profissional, no exercício deste ofício desafiante e complicado de separar fatos de mitos e boatos, jamais imaginei que iria escrever com tanto prazer e já com uma precoce ponta de saudade sobre um agosto brasileiro.
Não há como fugir da constatação: em 2012, este foi um mês de dar gosto, principalmente para os que ainda acreditam (e espero que sejam muitos no País) que nem tudo se perdeu.
O “mês oito”, como dizem os soteropolitanos, demonstrou cabalmente que a esperança segue acesa em muitos lugares e em vários aspectos. No pleno do Supremo Tribunal Federal onde são julgados os réus do Mensalão (bem mais) ou na CPI do Cachoeira no Senado (bem menos). Mas o importante é que a chama siga produzindo claridade e iluminando decisões cruciais.
Vivemos dias para ficar na história por múltiplas razões e significados, mas em especial no terreno salutar da restauração da confiança na justiça e do bom combate contra corrupção, o peculato e a impunidade.
Não dá para não registrar vivamente, ou deixar de saudar como emblemático e exemplar, um agosto que termina assim: com a condenação à prisão, por 9 a 2, de um ex-presidente da Câmara dos Deputados (João Paulo Cunha), um dos maiorais do principal partido no poder no Brasil (o PT), sentenciado juntamente com outros quatro réus do montanhoso e polêmico processo em julgamento no STF.
O mesmo mês e o mesmo julgamento em que os magistrados do Supremo reconheceram à unanimidade (por falta de provas confiáveis no processo) a inocência de um dos acusados: o ex-ministro Luiz Gushiken.
Tudo o que se fizer será pouco, seguramente, para reparar danos à honra ofendida, agressões disparadas no ar ou escritas no papel de muitos jornais no Fla x Flu das odientas paixões ideológicas que o caso provoca; graves prejuízos pessoais, políticos e familiares sofridos pelo também ex-dirigente e ex-nome de proa do governo petista na era Lula.
Pelos dois motivos, e outros que não dá para destacar neste espaço, atravessamos um agosto diferente e rico em lições e emoções nos registros nacionais.
Portanto, o que o jornalista sente agora ao batucar estas linhas na sexta-feira, 31, quando ainda faltam algumas horas para o “mês oito” terminar e começar a virar histórico, é uma saudade das boas. Do tipo cantado por Luiz Gonzaga em “Que nem Jiló”, um dos mais belos e famosos baiões do querido e saudoso artista pernambucano.
Ainda assim, sensações capazes de provocar surtos de arritmia cardíaca, a exemplo dos revelados nos resultados de exames médicos que o jornalista acaba de receber. Mas isso é outra história, que não merece mais que simples registro ilustrativo daquilo que verdadeiramente importa e justifica estas linhas de opinião semanal: os fatos de agosto.
Até ontem para mim, igual a milhões de brasileiros na Bahia como em outras regiões, agosto sempre esteve associado a um tempo de tragédias, desastres ou maus presságios. A começar por uma de minhas lembranças mais marcantes da infância, quando ouvi no meio da rua, em agosto de 1954, o serviço de alto-falante de Paulo Afonso dar a notícia do suicídio do presidente Getúlio Vargas.
Então, a cidade baiana, às margens do Rio São Francisco, era um formigueiro nordestino de operários e engenheiros que trabalhavam na construção da colossal hidrelétrica da CHESF, que iluminaria o Nordeste e criaria as condições para o desenvolvimento industrial da região paupérrima.
A notícia da morte de Getúlio teve o impacto de um terremoto que abrisse o chão sob os pés daquela gente. E do garoto apavorado no meio da rua. Não dá para esquecer. Depois, seguiram-se outros meses oito ruins.
“Agosto, todo mundo sabe, nunca foi fácil... Levou Drummond, levou John Huston, Gilberto Freyre. O mais patético: levou Pixote”, escreveu há anos um cronista em final de “mês oito”.
Agora escrevo eu este artigo para saudar, finalmente, um agosto brasileiro de dar gosto. Que parte deixando saudades. E boas expectativas!
A conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br
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