O Estado de S.Paulo - 12/01
A diversidade política, econômica e social domina a América do Sul. Seus países vivem problemas diversos - alguns parecidos, outros diferentes. Na clássica definição política, há dois blocos: o dos populistas, liderados por Argentina e Venezuela e que cresceu com a adesão de Bolívia e Equador; e os demais, mas não monolíticos, que passaram por reformas econômicas liberais e buscam seguir seu próprio caminho. Na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, o mais liberal deles, o Chile, ocupa o 1.º lugar no continente e a 40.ª colocação no ranking de 186 países. Em seguida vêm Argentina (45.º lugar), Uruguai (51.º), Venezuela (71.º), Peru (77.º), Brasil (85.º), Equador (89.º), Bolívia (95.º) e Paraguai (111.º). É isso mesmo: com toda a melhora de indicadores sociais, o Brasil é um dos últimos da lista e precisa mais que dobrar seu progresso econômico e social para alcançar o Chile.
No ano passado, a revista inglesa The Economist elegeu o Uruguai o "país do ano" e fundamentou sua escolha em duas importantes e revolucionárias reformas liberais: o casamento gay e a legalização e regulamentação da produção, venda e consumo de maconha. José "Pepe" Mujica, presidente do Uruguai, é um velhinho simpático, de hábitos simples (só usa sandálias), ex-tupamaro, torturado na ditadura e sem sinais de deslumbramento com o poder. Um pragmático que não ficou preso aos ideais socialistas do passado e foi ouvir economistas liberais ao assumir a presidência. Numa conversa com três deles - o espanhol José Ruiz, o argentino José Luis Machinea e o brasileiro André Lara Resende -, o tema central foi o que fazer na economia para atacar as desigualdades sociais. Com ele no comando, a economia uruguaia cresce a uma taxa média de 4%, o investimento estrangeiro aumentou 15% em 2013, o desemprego ficou em apenas 6%, mas não conseguiu derrotar o que ele considera sua "maior dor de cabeça": a inflação elevada, que fechou 2013 em 8,5%.
Em abril do ano passado, Mujica chamou sua vizinha Cristina Kirchner de "velha e teimosa", ao comentar as relações comerciais com a Argentina. Com reservas cambiais desabando, a presidente argentina tem recorrido a barreiras comerciais, afetando as relações com todos os países do Mercosul, inclusive o Brasil. O pesadelo de Cristina passa pela fuga de investimentos; por uma inflação em alta, beirando 27%; indicadores econômicos oficiais inteiramente desacreditados; pelo terceiro congelamento de preços em um ano, reajustados acima da inflação antes de congelar; a oposição de parcela considerável dos sindicatos; falta de água e apagões elétricos que têm revoltado cerca de 800 mil habitantes da cidade e da província de Buenos Aires; o avanço da oposição na última eleição; e um hematoma no cérebro que a deixou fora de combate desde a cirurgia, em 8 de outubro, só retomando o comando do país na quarta-feira (8/1).
Pior que o argentino é o pesadelo de Nicolás Maduro, na Venezuela. Tudo piorou após a morte de Hugo Chávez: a inflação fechou em 56% em 2013, mais que o dobro de 2012; o salário mínimo aumentou quatro vezes no ano, somando 56%; empresas estrangeiras se retiram do país temendo intervenção estatal; faltam alimentos e produtos essenciais, como carne, veículos e até papel higiênico; a violência é maior do que no Maranhão (o Estado mais violento do Brasil) e o assassinato da ex-miss e atriz de novelas Mônica Spear revoltou a população, levando Maduro, pela primeira vez, a reconhecer o fracasso. "O modelo fracassou na Venezuela e em todo o continente. É necessário construir um modelo de autoridade democrática que pacifique a sociedade e substitua valores", confessou ele diante de políticos de oposição.
Maduro não esclareceu se "autoridade democrática" implica suspender a censura à imprensa nem se o modelo que fracassou é o econômico que não atrai investimento e culpa os EUA e a oposição pelos fiascos do governo. O discurso é outro, mas fato concreto é que na Argentina e na Venezuela o populismo tem punido os mais pobres com a escalada da violência e a perda de renda com a inflação elevada.
A diversidade política, econômica e social domina a América do Sul. Seus países vivem problemas diversos - alguns parecidos, outros diferentes. Na clássica definição política, há dois blocos: o dos populistas, liderados por Argentina e Venezuela e que cresceu com a adesão de Bolívia e Equador; e os demais, mas não monolíticos, que passaram por reformas econômicas liberais e buscam seguir seu próprio caminho. Na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, o mais liberal deles, o Chile, ocupa o 1.º lugar no continente e a 40.ª colocação no ranking de 186 países. Em seguida vêm Argentina (45.º lugar), Uruguai (51.º), Venezuela (71.º), Peru (77.º), Brasil (85.º), Equador (89.º), Bolívia (95.º) e Paraguai (111.º). É isso mesmo: com toda a melhora de indicadores sociais, o Brasil é um dos últimos da lista e precisa mais que dobrar seu progresso econômico e social para alcançar o Chile.
No ano passado, a revista inglesa The Economist elegeu o Uruguai o "país do ano" e fundamentou sua escolha em duas importantes e revolucionárias reformas liberais: o casamento gay e a legalização e regulamentação da produção, venda e consumo de maconha. José "Pepe" Mujica, presidente do Uruguai, é um velhinho simpático, de hábitos simples (só usa sandálias), ex-tupamaro, torturado na ditadura e sem sinais de deslumbramento com o poder. Um pragmático que não ficou preso aos ideais socialistas do passado e foi ouvir economistas liberais ao assumir a presidência. Numa conversa com três deles - o espanhol José Ruiz, o argentino José Luis Machinea e o brasileiro André Lara Resende -, o tema central foi o que fazer na economia para atacar as desigualdades sociais. Com ele no comando, a economia uruguaia cresce a uma taxa média de 4%, o investimento estrangeiro aumentou 15% em 2013, o desemprego ficou em apenas 6%, mas não conseguiu derrotar o que ele considera sua "maior dor de cabeça": a inflação elevada, que fechou 2013 em 8,5%.
Em abril do ano passado, Mujica chamou sua vizinha Cristina Kirchner de "velha e teimosa", ao comentar as relações comerciais com a Argentina. Com reservas cambiais desabando, a presidente argentina tem recorrido a barreiras comerciais, afetando as relações com todos os países do Mercosul, inclusive o Brasil. O pesadelo de Cristina passa pela fuga de investimentos; por uma inflação em alta, beirando 27%; indicadores econômicos oficiais inteiramente desacreditados; pelo terceiro congelamento de preços em um ano, reajustados acima da inflação antes de congelar; a oposição de parcela considerável dos sindicatos; falta de água e apagões elétricos que têm revoltado cerca de 800 mil habitantes da cidade e da província de Buenos Aires; o avanço da oposição na última eleição; e um hematoma no cérebro que a deixou fora de combate desde a cirurgia, em 8 de outubro, só retomando o comando do país na quarta-feira (8/1).
Pior que o argentino é o pesadelo de Nicolás Maduro, na Venezuela. Tudo piorou após a morte de Hugo Chávez: a inflação fechou em 56% em 2013, mais que o dobro de 2012; o salário mínimo aumentou quatro vezes no ano, somando 56%; empresas estrangeiras se retiram do país temendo intervenção estatal; faltam alimentos e produtos essenciais, como carne, veículos e até papel higiênico; a violência é maior do que no Maranhão (o Estado mais violento do Brasil) e o assassinato da ex-miss e atriz de novelas Mônica Spear revoltou a população, levando Maduro, pela primeira vez, a reconhecer o fracasso. "O modelo fracassou na Venezuela e em todo o continente. É necessário construir um modelo de autoridade democrática que pacifique a sociedade e substitua valores", confessou ele diante de políticos de oposição.
Maduro não esclareceu se "autoridade democrática" implica suspender a censura à imprensa nem se o modelo que fracassou é o econômico que não atrai investimento e culpa os EUA e a oposição pelos fiascos do governo. O discurso é outro, mas fato concreto é que na Argentina e na Venezuela o populismo tem punido os mais pobres com a escalada da violência e a perda de renda com a inflação elevada.
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