O Estado de S.Paulo - 12/01
Percebi que já faço parte de uma outra geração. Não em relação aos meus pais, em relação aos meus sobrinhos. Semana passada eu falei pra eles: Vamos sair pra alugar uns vídeos. Quê? Vídeo? Primeiro, tio, o que é vídeo? Segundo, pra que sair de casa e alugar um vídeo, se podemos fazer isso em casa pelo Netflix ou por qualquer canal On Demand da TV a cabo?
Realmente, alugar uns vídeos ficou puxado. É que na verdade, eu ainda não consigo sair pra pegar uns DVDs. É estranho. Não é natural pra mim ainda. Fora que já não é nem mais DVD, que agora é Blu-Ray. Aí fica mais difícil ainda de mudar. Mas, parando pra pensar, eu entendo pessoas de outras gerações que ainda falam "bater à máquina", "passar os ferrolhos", "tomar um Grapette". É que tem muito mais coisa por trás dessas frases do que três ou quatro palavras.
Na frase "sair pra alugar uns vídeos" está implícita muita coisa, talvez, toda a minha infância. Eu indo na videolocadora com os meus pais, escolhendo o que eu queria assistir, descobrindo quais eram os novos lançamentos, esperando um tempo na locadora enquanto meus pais iam comprar pão pra ver se devolviam o filme que eu queria e que já estava alugado, colocando a fita no vídeo de casa, descobrindo que tinha que rebobinar porque o cliente anterior devolveu a fita correndo, descobrindo que o cabeçote do videocassete estava sujo e que agora tinha uma linha cinza na tela, vendo minha mãe pegar um cotonete com álcool para limpar por dentro, tirando a fita e percebendo que ela enganchou lá dentro e tem que ter um MacGyver em casa (no caso minha mãe) para tirar sem arrebentar e enroscar a fita de novo, vendo os trailers para saber quais eram os próximos lançamentos, eu sentando a noite com pipoca e chocolate ao lado da minha mãe fazendo ponto e cruz sem olhar a tela porque ela entendia inglês e do meu pai sem camisa sentado na cadeira do papai acelerando o filme porque ele não tinha paciência pras cenas sem fala, e, de vez em quando, se a noite estivesse muito quente, e São Paulo quando é quente é quente, a gente colocando a TV, o vídeo e as cadeiras na varanda pra assistir do lado de fora no ventinho, mesmo cheio de mosquito, minha mãe usando o filme da cinderela para dar aula de inglês pra minha prima Adriana, tampando as legendas, eu gravando o TV Pirata para os meus pais que tinham saído à noite...
Então, realmente, pra eu deixar de falar "alugar uns vídeos" vai levar um tempo. Talvez toda a minha vida adulta. Até porque, quando eu for velhinho, eu aposto que, assim como o LP, o vídeo vai voltar com tudo.
Percebi que já faço parte de uma outra geração. Não em relação aos meus pais, em relação aos meus sobrinhos. Semana passada eu falei pra eles: Vamos sair pra alugar uns vídeos. Quê? Vídeo? Primeiro, tio, o que é vídeo? Segundo, pra que sair de casa e alugar um vídeo, se podemos fazer isso em casa pelo Netflix ou por qualquer canal On Demand da TV a cabo?
Realmente, alugar uns vídeos ficou puxado. É que na verdade, eu ainda não consigo sair pra pegar uns DVDs. É estranho. Não é natural pra mim ainda. Fora que já não é nem mais DVD, que agora é Blu-Ray. Aí fica mais difícil ainda de mudar. Mas, parando pra pensar, eu entendo pessoas de outras gerações que ainda falam "bater à máquina", "passar os ferrolhos", "tomar um Grapette". É que tem muito mais coisa por trás dessas frases do que três ou quatro palavras.
Na frase "sair pra alugar uns vídeos" está implícita muita coisa, talvez, toda a minha infância. Eu indo na videolocadora com os meus pais, escolhendo o que eu queria assistir, descobrindo quais eram os novos lançamentos, esperando um tempo na locadora enquanto meus pais iam comprar pão pra ver se devolviam o filme que eu queria e que já estava alugado, colocando a fita no vídeo de casa, descobrindo que tinha que rebobinar porque o cliente anterior devolveu a fita correndo, descobrindo que o cabeçote do videocassete estava sujo e que agora tinha uma linha cinza na tela, vendo minha mãe pegar um cotonete com álcool para limpar por dentro, tirando a fita e percebendo que ela enganchou lá dentro e tem que ter um MacGyver em casa (no caso minha mãe) para tirar sem arrebentar e enroscar a fita de novo, vendo os trailers para saber quais eram os próximos lançamentos, eu sentando a noite com pipoca e chocolate ao lado da minha mãe fazendo ponto e cruz sem olhar a tela porque ela entendia inglês e do meu pai sem camisa sentado na cadeira do papai acelerando o filme porque ele não tinha paciência pras cenas sem fala, e, de vez em quando, se a noite estivesse muito quente, e São Paulo quando é quente é quente, a gente colocando a TV, o vídeo e as cadeiras na varanda pra assistir do lado de fora no ventinho, mesmo cheio de mosquito, minha mãe usando o filme da cinderela para dar aula de inglês pra minha prima Adriana, tampando as legendas, eu gravando o TV Pirata para os meus pais que tinham saído à noite...
Então, realmente, pra eu deixar de falar "alugar uns vídeos" vai levar um tempo. Talvez toda a minha vida adulta. Até porque, quando eu for velhinho, eu aposto que, assim como o LP, o vídeo vai voltar com tudo.
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