segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CRÔNICA Cartas de Londres: 'The terrible twos'...



Na língua inglesa há uma expressão especialmente criada para as crianças que se aproximam dos dois anos de idade.
Eu não sabia, mas agora que meu filho está chegando lá, tudo parece acabar no que se conhece por aqui como “the terrible twos”.
É uma fase do desenvolvimento infantil conhecida pelos escândalos em público, desobediência, e por aí vai...
Dia desses, passeando pelo comércio, deparei com o desespero de uma mãe ao ver que o filho de dois anos e meio havia, simplesmente, desaparecido.
Ela repetia sem parar: “Eu disse para ele ficar aqui! Eu disse!” Estava desesperada, como, infelizmente, milhares de outras, naquele instante.
Segundo a polícia, 220 mil crianças desaparecem todos os anos no Reino Unido.
Hoje, o Governo inglês conta com um escritório nacional que centraliza todos os casos de crianças, jovens e adultos desaparecidos – o Missing Persons Bureau.
Os funcionários do MPB atuam juntamente com a polícia. De acordo com dados estatísticos, e baseados em informações sobre os desaparecidos, tentam montar as peças do quebra-cabeça.
Tendo como base casos anteriores, o MPB já sabe, por exemplo, que crianças com menos de 10 anos e do sexo masculino são achadas, na maior parte dos casos, fora de casa; enquanto meninas da mesma idade são encontradas, quase sempre, em algum ambiente interno.
O pequeno Tom, aquele que havia desaparecido no início da narração, foi encontrado minutos depois da minha chegada. Estava dentro de uma cabaninha de índio, na loja em frente da qual se encontrava a mãe...
Assim como ele, a maioria das crianças desaparecidas no Reino Unido são encontradas dentro de 24 horas.
No Brasil, a propósito dos pequenos que se perdem nas praias, li, certa vez, uma boa orientação: devemos procurá-los no sentido contrário ao sol, cuja luminosidade, naturalmente, incomoda; a tendência da criança é, pois, dar as costas para ele e começar a grande aventura que, certamente, acabará em choro...
Como nem sonho passar por tamanho desespero, saídas com o Fabrício, pelo menos por agora, só com aquelas mochilinhas que trazem uma corda, cuja ponta amarro no pulso. O que sempre me faz lembrar o "Poema enjoadinho" do nosso Vinicius de Moraes: "Filhos? Melhor não tê-los,/ mas se não os temos, / como sabê-lo?"
Concordo com ele, principalmente quando, nos versos finais, reconhece, apesar de tudo: "Que coisa louca, que coisa linda / que os filhos são!"

Mariana Caminha é formada em Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na Nottingham Trent University, Inglaterra. Casada, mora em Londres, de onde passa a escrever para o Blog do Noblat sempre às segundas-feiras. Publicou, em 2007, o livro Mari na Inglaterra - Como estudar na ilha...e se divertir

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