segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Código David: Por que ser professor - David Coimbra


14 de outubro de 2012


Já tentei ser professor, e foi um fracasso rotundo. Não tinha paciência. Era um curso de jornalismo, profissão que há décadas me assegura o sustento e há alguns anos o mamá com Nescau do meu filho. Quer dizer: devo entender alguma coisa da atividade. Mas saber fazer algo não é o mesmo que saber ensinar a fazer. Então, lá no fundo da sala, havia aquele mongolão. Ele ficava escarrapachado na cadeira e olhava o mundo com um olhar morno e não aprendia nada do que eu tentava ensinar. Eu repetia e repetia e ele não aprendia. Aquilo foi me dando uma angústia... Primeiro, achava que ele era um taipa. Depois vi que o taipa era eu, que não conseguia ensiná-lo.
Desisti de ser professor. Felizmente, antes de ajudar na queda dos níveis da combalida educação brasileira.
Um superior
Admito que meus motivos para querer ser professor não se relacionavam com o amor pelo magistério. Queria ser professor para sentir-me superior. Eu detendo um conhecimento que os outros não têm. Eles aprendendo com a minha sabedoria. Eu, O Mestre. Pensava nisso e já podia ver o olhar de admiração dos alunos. Seu eterno agradecimento pelas pérolas de saber que lhes atirava.
Tsc tsc.
Não confie em ninguém
Hoje sei que os alunos não respeitam mais professor, nem polícia, nem pais, nem qualquer autoridade. As autoridades estão desmoralizadas, no Brasil. Começou com aquilo de não confie em ninguém com mais de 30 anos e é proibido proibir. Maio de 68 na França. Era tudo muito libertário, tudo muito alegre, tudo muito revolucionário. O mundo ia mudar. Mas foi além do que devia ir. O mundo mudou demais. Os limites foram rompidos. Agora estamos nisso.
Só que, nos meus tempos de faculdade, havia um professor que inspirava devoção nos alunos, aquela devoção que eu gostaria de inspirar, quando tentei ser professor. Era o Marques Leonam. A gente assistia às aulas do Leonam e saía de dentes rilhados e sangue no olho, querendo ser repórter. Era isso que o Leonam fazia: dourava a função de repórter e transformava-a na mais nobre do jornalismo, uma das mais nobres de qualquer profissão.
Como o Leonam produzia essa mágica? Dizendo que o repórter é aquilo que o aluno quer ser: contestador, crítico, paladino dos oprimidos, fiscal dos poderosos. Um herói. O Leonam fazia o aluno se sentir um herói em formação, e por isso ele, Leonam, era, e é, um herói da educação. Donde, essa homenagem na véspera do Dia do Professor.
Que inveja do Leonam.
Sobre professores.
De Guerra Junqueiro em "A Escola Portuguesa":
"O professor asinino
Segundo entre nós ele é,
Dum anjo extrai um cretino,
Dum cretino um chimpanzé"
O que ler
A vida privada do Camarada Mao
Há dezenas de biografias de Mao Tsé-tung por aí, talvez centenas, quiçá milhares, mas poucas são tão íntimas quanto a que o médico pessoal dele, o doutor Li Zhisui, escreveu depois da morte do líder chinês, ocorrida nos anos 70. Quando preparou o alentado "A vida privada do Camarada Mao", o doutor Li já havia escorregado para a segurança do Ocidente. Ele foi médico de Mao durante 22 anos, período em que conviveu diariamente com o Grande Timoneiro. Em sua obra, muito bem escrita, a ponto de o leitor nem notar que avança por mais de 800 páginas, o doutor Li relata detalhes da vida de Mao e dos chineses comuns, além de minúcias de acontecimentos de repercussão internacional daquele tempo. Conta, por exemplo, que Mao jamais escovava os dentes _ apenas enxaguava a boca com chá verde ao acordar, como fazem muitos camponeses do interior da China. Ao fazer um exame no líder, ele encontrou o seguinte:
"_ Os dentes dele parece que foram pintados de verde _ tinha me dito Peng e, quando olhei a boca de meu paciente, vi que todos os seus dentes estavam cobertos por uma espessa camada verde. Alguns dentes pareciam moles, prestes a cair. Toquei de leve na gengiva e saiu um pouco de pus. Ele nunca reclamou de qualquer dor, embora uma infecção daquelas provoque uma dor considerável. Acredito que ele tivesse uma enorme capacidade de suportar a dor e odiava tanto os médicos e as doenças que preferia aguentar calado."
Leia "A vida privada do Camarada Mao" e conheça os intestinos do poder chinês

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