segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Campeonato interno - Blog do Juca Kfouri


Luiz Guilherme Piva

O pior adversário é dentro. Não são os outros.
Estes atacam na cara, exibem armas, expõem falhas, dão chance à reação. Ganha-se de um, perde-se de outro, vai-se acumulando ou perdendo energia às claras.
O inferno é dentro. Insidioso, matreiro, oculto.
Corrói um pedaço do time, avança sobre outro em silêncio, vive de produzir vida inútil dentro da vida útil do conjunto. Oculto, mutante, camaleônico, imperceptível – quando é notado, já o time está em tal risco que nem sabe calcular sua sobrevida.
Na verdade, essa energia mortífera nasce com o time e o constitui. É parte dele. È como a antítese da energia vital que leva às sínteses de crescimento, vitória, estabilização e – eis o ciclo da vida – cessão de lugar a outro time, que é extensão daquele, sendo ele mesmo mas outro.
Há momentos, situações e times, porém, em que a antítese – o inferno, o adversário interno – quer dominar o próprio time, crescer mais do que ele, gerar mais energia do que ele, uma energia que fere, sangra, faz pústulas e leva o ciclo ao paroxismo e o time ao cansaço, à fraqueza, à exaustão.
Nesses casos, se o time aceitar o jugo interno, ficará fácil para os adversários de fora. Estes nem precisarão fazer força. Entrarão em campo contando com a vitória que o time doente lhes vai fornecer. Só estocam, esperam, vão lá e assopram, sabendo que o enfermo vai tombar.
Só que a consciência de que o adversário não é externo, de que o diabo não está na rua, mas sim no redemoinho dentro do próprio time, pode rejuntar a capacidade interna de domá-lo e vencê-lo, de recompor o ciclo, de refazer as sínteses, de dar ao organismo o equilíbrio entre vitórias e derrotas que definem o time e a vida.
E de o time assim refazer-se pleno e vivo.
A divisão não importa. Importa é ser um time, repleto de vida.
A luta por divisões é a luta por sobrevidas.
Que são bem-vindas, maravilhosas. Deve-se lutar até o extremo, até mais do que o limite, por elas.
Mas elas não satisfazem torcedores apaixonados, angustiados.
Luiz Guilherme Piva não desiste nem desistirá.

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