segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Era dos Excessos


15.10.2012
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11h32m
PAULO GUEDES


A maior ofensa aos deuses na Antiga Grécia eram as aspirações sem limite dos humanos. Os gregos antigos atribuíam a perdição dos homens e a queda dos impérios ao castigo dos deuses às nossas desmedidas pretensões. A essa falta de moderação que nos condena aos excessos, a esse ímpeto que nos leva a desafiar os deuses pela ousadia de tentar feitos sobre-humanos, os gregos designavam por "húbris". 

Pois bem, as principais crises contemporâneas registram o eterno retorno desse tema humano, demasiadamente humano, da falta de moderação e da condenação aos excessos. Foram devastadores os excessos cometidos por financistas anglo-saxões contra o regime fiduciário ocidental. Foram irresponsáveis também os abusos cometidos pela social-democracia europeia contra a viabilidade financeira de sistemas públicos de saúde, educação e aposentadorias, redes de solidariedade que sustentam a civilização contemporânea. 

Os excessos dos financistas e dos políticos quebraram seus bancos e seus governos. Enquanto os economistas celebraram as últimas décadas como o período da Grande Moderação, futuros historiadores examinando retrospectivamente nossa época dirão que essa foi uma Era dos Excessos, caracterizada exatamente pela enorme falta de moderação. 

Perdiam o juízo políticos, financistas, famílias e governos, embriagando-se todos com o endividamento excessivo. Faltou moderação nos financiamentos imobiliários, na alavancagem do sistema financeiro, nas promessas de benefícios e aposentadorias futuras e nas doses cada vez maiores de liquidez injetadas por bancos centrais nas veias bancárias, muito antes do colapso de 2008-2009. A percepção do risco de cada instituição financeira era anestesiada enquanto subia exponencialmente o risco sistêmico, fenômeno clássico de moral hazard — estímulo ao risco excessivo pela falta de moderação das próprias autoridades monetárias. 

O noticiário brasileiro registra também mais um episódio de perdição dos homens por ambição excessiva. O PT é um partido com extraordinárias contribuições à democracia brasileira. Destacou-se na defesa da transparência e da democratização dos orçamentos públicos. Mas, inebriados pelo poder, perderam-se alguns em desmedidas pretensões. Ofenderam aos deuses do Supremo, e por eles serão punidos.
Publicado no Globo de hoje.

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