Ricardo Setti
Amigas e amigos do blog, já escrevi aqui, e escrevo de novo, que, como cidadão e jornalista, acredito na culpabilidade dos principais réus do mensalão – mas que, como democrata, aceitarei e respeitarei qualquer que seja a decisão do Supremo.
Há coisas, porém, que não aceito e às quais voltarei sempre. Uma delas é a cara de pau e a falta de aplomb — para não dizer coisa pior e ter problemas com a lei — do ministro Dias Toffoli de não se declarar impedido de participar do julgamento – mesmo tendo sido advogado do PT durante três eleições, assessor do principal réu, José Dirceu, na Casa Civil da Presidência, e de sua mulher haver defendido três dos 38 réus do caso.
Sem contar que também exerceu um cargo de alta confiança no final do governo Lula — a que os mensaleiros teriam beneficiado, segundo a denúncia do Ministério Público –, o de advogado-geral da União.
E aqui cabe lembrar um homem de bem que fez exatamente o que mandava sua consciência, a lógica e a interpretação das leis em julgamento algo similar a esse – o de Fernando Collor pelo Supremo Tribunal Federal, no qual o ex-presidente que renunciou para não sofrer impeachment pelo Congresso acabou não sendo condenado por falta de provas suficientes, em decisão de dezembro de 1994.
Naquele julgamento, um dos 11 ministros do Supremo, Francisco Rezek, declarou-se impedido por um dos itens, apenas um, do vasto elenco de constrangimentos que deveria haver levado Toffoli a fazer o mesmo: o de haver sido ministro das Relações Exteriores — bom ministro, por sinal — durante dois anos de um governo que durou dois anos e 8 meses.
O diabo é que, no Brasil, bons exemplos, como o de Rezek, não pegam.
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