Josias de Souza
Líder de uma época em que a mobilização de pessoas exigia panfletos, carro de som e microfone, Lula declara-se impressionado com os protestos que nascem no ambiente virtual das redes sociais e levam multidões às ruas do país há 13 dias. Acha que o governo de Dilma Rousseff e o PT precisam entender urgentemente o que se passa. Sob pena de sofrer prejuízos eleitorais.
A reação de Dilma e do petismo às últimas novidades foi esboçada em reunião com Lula. O primeiro passo foi convencer o prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, a revogar o aumento de R$ 0,20 na passagem de ônibus. Algo que foi arrancado a fórceps. De resto, sob influência do marqueteiro João Santana, Lula e Dilma concluíram que a estratégia precisa incluir pelo menos três providências:
1. A legitimidade do movimento: Dilma, seus auxiliares e o PT irão repisar a mais não poder o discurso que atribui legitimidade aos protestos, enaltece os manifestantes, condena a minoria do quebra-quebra e critica os excessos da polícia. Avalia-se que, nessa matéria, ninguém terá mais autoridade do que a ex-torturada Dilma para falar em nome da geração que combateu a ditadura para que a rapaziada pudesse agora frequentar o asfalto sem ser reprimida.
2. O governo como solução: pretende-se vender a tese segundo a qual a onda de protestos é consequência dos êxitos do governo, não o contrário. Nessa versão, as faixas e os slogans das manifestações exigem mais do Estado porque os dez anos de Lula e Dilma no poder produziram um Brasil inteiramente novo.
Os milhões de brasileiros içados à classe média, os jovens pobres nas universidades e a elevação da taxa de emprego formal permitem que a sociedade agora exija mais. E o governo se dispõe a entregar. Nesse ponto, o que estraga as intenções são os fatos. O grosso do que o petismo se jacta de ter realizado é associado a Lula. Sob Dilma, entregou-se PIB miúdo e inflação graúda. Uma combinação ajuda a eletrificação do asfalto e desafia a popularidade da presidente.
3. Nova agenda: Concluiu-se que, sem perder a atenção da clientela do Bolsa Família, o governo precisa levar a classe média ao seu radar. Na avaliação de Lula e Cia. é esse pedaço da sociedade que está nas ruas. Para dar vazão às reivindicações, o governo teria de construir uma agenda nova. De novo, a intenção esbarra no fato.
Tomada pelos cartazes, a multidão pede que o “padrão Fifa” dos estádios –muito dinheiro e cronogramas rígidos— seja levado aos serviços públicos, a começar por duas áreas: saúde e educação. Uma agenda que traz no topo escolas e hospitais não pode ser chamada de “nova”. De resto, para prover o que a turba pede, Dilma teria de dispor de uma folga orçamentária que não existe.
Lula e Dilma acertaram os ponteiros na terça-feira (18). Reuniram-se em São Paulo. Presentes, além da dupla, o marqueteiro João Santana; o presidente do PT, Rui Falcão; e o ministro Aloizio Mercadante (Educação), provável futuro coordenador do comitê reeleitoral de 2014.
Afora as providências que dependem do governo, há tarefas para o partido. Lula deseja que a militância do PT se achegue aos protestos de rua e a grupos como o agora notório Movimento Passe Livre. Ele fez essa mesma recomendação à turma da CUT. O diabo é que uma das marcas dos protestos da era do Facebook é a hostilidade da rapaziada a qualquer porta-bandeira partidário. Partidários do PSTU, do PCO e do PSOL foram constrangidos a enrolar as suas.
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