Os manifestantes que sitiaram a sede do Legislativo nesta segunda-feira escolheram o alvo certo no dia errado. Em países que não transformaram o Congresso num clube dos cafajestes, atesta o post republicado na seção Vale Reprise, o regime de trabalho dos parlamentares é igual ao de qualquer cidadão. No Brasil, deputados e senadores inventaram a semana que começa depois do almoço de terça-feira e termina no meio da tarde de quinta.
Como os pais-da-pátria estavam ausentes, os ativistas de Brasília trataram de mandar-lhe aos berros o recado resumido no vídeo. “Nosso ato foi vitorioso, mas o movimento apenas começou”, avisa a multidão. A mensagem fica ainda mais clara segundos depois: “Não tá certo o que eles fazem com o nosso dinheiro, com a nossa saúde, com a nossa educação”. Para os brasileiros decentes, é pura música. Pode virar trilha de filme de terror se os delinquentes com imunidade parlamentar não ouvirem a tempo o coro dos indignados.
O descaramento exibido já na terça-feira sugere que os chefões do Legislativo tiveram o instinto de sobrevivência afetado pelos vapores do poder. Na terça-feira, por exemplo, Gilberto Carvalho apareceu no Senado para falar sobre a tentativa de impedir que uma comissão de sindicância apurasse as bandalheiras colecionadas por Rosemary Noronha, demitida da chefia do escritório da Presidência em São Paulo. À exceção do tucano paulista Aloysio Nunes Ferreira, os senadores escalados para fazer perguntas só fizeram elogios ao ex-seminarista que virou vigia de bordel.
No mesmo dia, a Câmara decidiu deixar para o segundo semestre a votação da PEC 37, que revoga a participação de integrantes do Ministério Público em investigações policiais. A rejeição da esperteza, concebida para livrar da cadeia a bandidagem cinco estrelas, é agora a reivindicação mais urgente dos manifestantes que se espalham pelas ruas do Brasil. Os deputados que estiverem no Congresso nesta quinta-feira, saberão pela voz da multidão mobilizada para outro ato de protesto, que o truque do adiamento não funcionou. A malandragem tem de ser sepultada já.
A sensatez recomenda que os deputados entendam o recado do vídeo. Ou fiquem longe de Brasília pelos próximos meses.
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