quinta-feira, 20 de junho de 2013

GERAÇÃO COCA-COLA COM MENTOS

congresso manifestantes
Dizem os mais exagerados que a Revolução Francesa foi provocada pelo aumento do preço do pão. A população que já estava na miséria, explodiu de vez quando se deparou com o tal aumento.
Outros ponderam dizendo que a situação na França era caótica e o preço do pão foi apenas o estopim.
O fato é que naquela época a igreja católica controlava o país e a burguesia francesa queria mais espaço no comando do país, portanto, articulou com a grande massa para derrubar o clero.
Hoje, no Brasil, pode ser que esteja acontecendo algo parecido: A revolução dos vinte centavos!
Tem aqueles que insistem em acreditar que o brasileiro foi à rua para protestar contra o aumento de vinte centavos no preço da passagem dos ônibus em São Paulo. Entretanto, esse argumento caiu por terra quando outros estados do país e mais o Distrito Federal aderiram ao movimento.
Afinal, se perguntam os mais reacionários, o que mineiros, cariocas, brasilienses, gaúchos e paranaenses tem a ver com o transporte público de São Paulo?
A resposta é simples e óbvia: o transporte público brasileiro está um caos.
Após a identificação de todos com a causa paulistana, outros fatores foram surgindo como dedos cobertos de sal tocando na ferida aberta.
Sem clichês, a situação da saúde, da educação e da segurança pública no Brasil piora a cada dia. E no momento em que mais um era vítima de sequestro relâmpago em Brasília ou morria jogado no chão sujo de um hospital público do Rio de Janeiro, o país abriu as portas para o mundo conhecer os seus novos e belos estádios de futebol. A imagem de um país alegre e acolhedor era empurrada goela abaixo sem direito a copo d`agua.
Comerciais com locutores entusiasmados lotaram os intervalos da programação da televisão. O paradoxo entre o que acontecia dentro da telinha e o que acontecia na vida real deu um nó na cabeça do brasileiro.
O povo ficou puto!
E não só foi por causa dos vinte centavos. Ou pelo aumento da gasolina. Ou pela queda da popularidade da presidenta. Também não foi só porque temos um Congresso habitado por muitos picaretas e sanguessugas.
O motivo é a soma de todos esses fatores, mais o histórico de sacanagens políticas que presenciamos e ficamos calados. Mensalões dos partidos A e B. Cachoeira condenado e passando a lua de mel em um resort de luxo. Obras nos estádios ficando dezenas de vezes mais caras do que a previsão inicial. A votação da PEC 37. A alta carga tributária. A violência desenfreada nas grandes capitais. A falta de respeito com os alunos. Falta de respeito também com os professores. Descaso com quem não pode pagar um plano de saúde. E etc.
A lista é tão grande que precisaria de mais uns dois ou três posts para compreendê-la na íntegra.
O fato é que ainda é cedo para afirmar quais foram as conquistas dessas manifestações por todo o país. Ainda não ficou completamente claro se existem interesses políticos escusos por trás dos manifestantes, como foi o caso da Revolução Francesa.
Em um primeiro momento, o que parece é que não se tratam de manifestações partidárias. Mas, de pessoas que estavam em suas casas assistindo TV ou mexendo no Facebook e viram a PM descer a porrada em alguns manifestantes seguindo ordens de governantes que tentavam desesperadamente salvar o evento da FIFA. Aí essas pessoas perceberam que aquilo não estava correto, rolou uma espécie de insight coletivo e muita gente foi para rua protestar, como se estivesse obedecendo a mais um desses comerciais entusiasmados com a Copa, afinal, a Fiat não convidou todos os brasileiros a irem para a rua?!
Mas, não para aumentar a torcida pela Seleção de futebol. E sim para mostrarem que não é com repressão que se constrói um país democrático. Que o cidadão não pode levar tiro de borracha só porque resolveu estragar a imagem que o Brasil vendeu para a FIFA. O povo saiu em defesa do povo.
Espero, de verdade, que este movimento não seja por uma causa específica para ser resolvido em uma simples negociação com o governo. Mas, que seja um movimento motivado apenas pela indignação. Indignação pelo conjunto da obra. Chega de pão e circo. Um basta à troca de favores.
Repito: não faço a menor ideia sobre quais serão as consequências dessas manifestações e nem se elas realmente acontecerão. Pode ser que amanhã ou depois todos já tenham se esquecido e que com o fim da Copa também acabe nossas esperanças nas urnas.
Seria muito triste se isso acontecesse. Torço, talvez de uma forma utópica, para que ocorra uma revolução de comportamento. Que a educação seja encarada com mais seriedade…
Mas, enquanto isso não acontece, me contento em dizer que estava presente no dia em que o país colocou a bandeira nos ombros e não foi para um estádio assistir um jogo de futebol. Cantou o hino nacional e não era a hora cívica escolar.
Os dias futuros não passam de meras conjecturas. Mas, essa semana foi real. Nela o Brasil acordou e não deu apenas um bocejo preguiçoso, mas, um brado estridente que amedrontou muito político que apostava no coma induzido do país por mais alguns anos.

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