Ricardo Setti
Reportagem publicada na edição impressa de VEJA
RECRUTAM-SE ASSASSINOS
Aliados de Cristina Kirchner tiram condenados da prisão para participar de atos de apoio ao governo argentino
Os governos peronistas historicamente se sustentaram no uso de grupos à margem da lei, capazes tanto de organizar manifestações chapas-brancas como de surrar opositores. A presidente argentina Cristina Kirchner conseguiu fazer pior. Um dos muitos movimentos pretensamente populares ligados a ela convoca condenados pela Justiça para engrossar eventos cristinistas fora da prisão.
De acordo com uma reportagem do jornal Clarín, assassinos e estupradores que cumprem pena ganham indultos periódicos para tocar instrumentos de percussão e gritar urras para a presidente. Dois deles provocam especial ojeriza entre a população. Um é o ex-baterista da banda Callejeros, Eduardo Vásquez, condenado a dezoito anos de prisão por queimar e matar a mulher, Wanda Taddei. Outro é Rubén Pintos, torcedor do River Plate que cumpre pena perpétua pelo assassinato de Gonzalo Acro, fã do mesmo time.
Em junho, os dois assassinos foram flagrados no Museu Penitenciário, no bairro de San Telmo, em Buenos Aires, tocando em um evento do grupo peronista e kirchnerista Vatayón Militante (“batalhão militante”, na gíria portenha).
Com cerca de cinquenta integrantes, o Vatayón Militante realiza atividades em cárceres desde novembro do ano passado. A agrupação prega a ressocialização dos detentos por meio de atividades culturais, o que está previsto em lei. Dá aulas de tango e teatro. Muitos dos eventos, porém, têm fins claramente políticos.
O refrão de uma das músicas cantadas em um desses encontros dizia: “Borombombom, borombombom, esses tambores… são de Perón”. Fotos dos atos mostram o personagem Nestornauta, inspirado no ex-presidente Néstor Kirchner e criado por outro movimento, o La Cámpora. Esse grupo, sob a liderança de Máximo Kirchner, filho de Cristina e Néstor, já tem 7 000 afiliados e simpatizantes em cargos na burocracia estatal. O Vatayón Militante e o La Cámpora fazem muitos de seus eventos políticos em conjunto.
A aprovação para as saídas temporárias dos presos é dada por graúdos do governo. Cristina as defendeu e negou que tenham propósito político. Outro que apoia a prática é o chefe do Serviço Penitenciário Federal, Víctor Hortel. Ele foi visto apresentando-se na cadeia em um grupo musical ao lado de criminosos como Pablo Díaz, que estuprou e matou com 26 punhaladas a jovem Soledad Bargna, em 2009.
O crime, aliás, foi cometido em um passeio anterior fora da prisão. Por lei, as permissões temporárias só podem ser dadas quando o condenado já cumpriu metade da pena, o que não é o caso de Díaz.
“Deus queira que ele não tenha saído de novo”, lamentou o pai da vítima, Guilhermo Bargna. “Tudo isso fere a memória da minha filha.
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