quinta-feira, 16 de agosto de 2012

CRÔNICA - Cartas de Paris: Os parisienses têm direito ao pão mesmo nas férias



Em agosto, Paris se transforma em um deserto. É verão deste lado do globo terrestre e todos saem de férias deixando a cidade às poucas pessoas que continuam trabalhando e aos que estão aqui para se divertir. Os parisienses, adoram esta época do ano, quando a cidade fica tranquila, o metrô vazio e os terraços dos bares e restaurantes lotados. Temos a impressão de que tudo vai mais devagar.
O mais impressionante para os desavisados turistas é que o comércio também tira férias em agosto e muitas lojas fecham. Todos têm direito a pegar alguns dias livres. Ou melhor dizendo, todos menos os empregados das padarias. Para garantir o pão de cada dia dos franceses, as “boulangeries” são os únicos estabelecimentos cujas férias de verão estão submetidas à autoridade municipal.
Em Paris, desde 1995, um decreto da prefeitura estipula um “plantão” para os padeiros que são selecionados anualmente para trabalhar em julho e agosto. Os que tentam burlar a regra podem pagar multas de 33 euros por dia não trabalhado. Porque os franceses podem ficar sem remédios, lâmpadas ou mecânico, mas nunca sem baguetes, que acompanham todas as refeições!
A ideia vem de uma lei imposta logo após a Revolução Francesa. Para evitar a fome generalizada, em 1790, as autoridades de Paris impuseram aos padeiros que abrissem no verão. Atualmente a regra é aplicada em forma de rodízio para que os que não podem viajar tenham pelo menos direito ao pão.
Ano passado, um padeiro do XIXe arrondissement de Paris decidiu instalar uma máquina distribuidora de pães em sua padaria para resolver o problema. O aparelho pode produzir 120 baguetes fresquinhas por dia. Caso você esteja em Paris e seja invadido por uma súbita vontade de comer um pão de madrugada ou em um feriado, já sabe onde encontrar.
Mas, claro, com a máquina acaba o contato com o/a padeiro/a que, assim como o pão, é toda uma instituição francesa. Mas falarei mais sobre o assunto no futuro, porque este personagem da vida parisiense merece um post à parte só para ele.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.

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