A reeleição de Barack Obama e todas as notícias que saíram na imprensa francesa sobre isso me fizeram pensar na interessante relação que existe entre franceses e americanos.
Visto de fora, tudo parece simples: os franceses odeiam os americanos e estes, por sua vez, não estão nem aí. Qual não foi a minha surpresa, quando cheguei aqui, e descobri que as coisas não são bem assim.
Franceses e americanos vivem encontros e desencontros amorosos há tempos. As relações entre os dois nasceram de um “rendez-vous manqué”, como diriam os franceses em linguagem poética, durante a guerra da independência dos Estados Unidos.
A França participou pensando que o gigante norte-americano independente, influenciado pelo Iluminismo francês, deixaria a Inglaterra de lado e se aproximaria dos gauleses.
Os franceses só se recuperaram da traição americana vários anos mais tarde, quando os EUA entraram na Normandia, em uma manhã de tempestade, para libertar o país dos nazistas.
1/6/1961 - crianças francesas querem cumprimentar Kennedy
De certa maneira, a França ajudou os EUA a nascerem e os americanos ajudaram os franceses a continuarem existindo.
Atualmente os dois países funcionam sob regimes opostos. A “sociale démocratie” francesa bate de frente com o “american way of life”.
Enquanto na França o Estado é muito presente nos assuntos econômicos e na vida dos cidadãos, nos EUA impera a total liberdade individual e econômica.
Enquanto no primeiro saúde, educação e transporte são deveres do governo, tanto de direita quanto de esquerda, o segundo não aceita a intervenção do Estado nem na criação do mais básico plano de saúde, e a esquerda não existe.
Tudo é muito diferente entre os dois, da maneira de pensar à cultura – em um é uma indústria e no outro um direito – até a maneira de comer – em um é fast food e no outro gastronomia.
Culturalmente falando, a França continua sendo o país que tenta enfrentar a potência da indústria cultural americana. Acho que o maior problema da França em relação aos EUA é este: a cultura americana se impôs no mundo inteiro relegando a França, tão acostumada a dominar neste setor, a um amargo segundo lugar.
Os franceses também são menos moralistas e hipócritas. Com certeza nenhum presidente deixaria de ser eleito porque teve relações sexuais com uma estagiária, mas, por outro lado, ainda estamos muito longe de ver um negro na presidência da França.
Toda esta diferença faz com que a gente tenha a falsa ideia de que eles se odeiam. Mas, segundo as leis da física, os opostos se atraem, não é mesmo?
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV.
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