sexta-feira, 19 de abril de 2013

SURUBA NA CASA DE RIO BRANCO



Giulio Sanmartini

O diplomata Mario Grieco, ministro de segunda classe, recebe salário de R$ 20.789,81, mas não trabalha desde 2006. Pior ainda, somente em julho do ano passado é que o ministério das Relações Exteriores (MR) descobriu essa anomalia e levou 6 anos para fazer um memorando sugerindo uma lotação, mas esmo assim, continua na mesma.

Os  cisnes do Itamaraty
Os cisnes do Itamaraty
Infelizmente não se trata de um caso isolado, na estrutura do MER, existem pelo menos 17 diplomatas que recebem seus salários sem trabalhar:São três embaixadores, cinco ministros de segunda classe, oito conselheiros e uma primeira-secretária que ganham salário médio de R$ 20 mil e, no entanto, não têm lotação. Por mês, a pasta gasta, sem contar benefícios indiretos, algo como  R$ 326 mil, ou seja, uma importância idêntica ao pagamento mensal de 500 trabalhadores.
Todos têm passaporte diplomático e alguns deles até apartamentos funcionais em áreas nobres de Brasília. Muitos dos chamados “encostados do Itamaraty” não põem os pés no MRE há anos, ou ironicamente também diplomatas que trabalham no DEC — Departamento de Escadas e Corredores.
Esse surrealismo abriga outros surrealismos, como o caso da conselheira Ilka Maria Lehmkul. Desde 2006, ela simplesmente desapareceu do controle interno do ministério. Já são pouco mais de seis anos sem trabalhar, embora receba todo mês R$ 19.297.
Na lista de ramais telefônicos internos do Itamaraty, na qual constam desde o telefone do agente de portaria até o do ministro Antonio Patriora, os 17 diplomatas nem sequer aparecem. Até servidores cedidos a outros órgão constam na relação. “Quem? Não, senhor. Esta pessoa não trabalha aqui, ou então entrou há muito pouco tempo”, avisa a recepcionista, quando perguntada por um embaixador. Em outro documento — a lista de antiguidade do MRE —, também são os únicos em que aparecem sem nenhuma lotação específica.
Na lista que segue abaixo, pode-se constatar que se trata de uma aberração típica da administração desastrosa do Partido dos Trabalhadores, que criminosamente vem desmontando uma  instituição, que era das mais  sérias do país, antes que eles chegassem ao poder.
Abaixo segue a lista desse zumbis abrigados no MRE:
Carlos Eduardo Sette Câmara (embaixador)
Não tem lotação. Em 2011, realizou apenas uma missão. Em 2012, outra. Desde novembro do ano passado, não trabalha. Aguarda sabatina do Senado Federal para ser nomeado embaixador do Brasil em Nassau, nas Bahamas. Salário: R$ 21.447,61
Carlos Augusto Rêgo Santos Neves (embaixador)
Já foi embaixador em Moscou, em Londres e no Porto. Sem trabalhar desde novembro do ano passado. O MRE informou que ele está em processo para se aposentar, mas não há data definida. Salário: R$ 21.557
Eduardo Botelho Barbosa (embaixador)
Cedido ao Ministério da Saúde até abril de 2012. Trabalhou em uma missão transitória de novembro de 2012 a janeiro deste ano. Aguarda sabatina no Senado para ser nomeado embaixador em Argel. Salário: R$ 19.420
Clemente Rodrigues Mourão Neto(ministro de 2ª classe)
Não tem lotação. Realizou apenas uma missão no ano passado. Vai se aposentar em junho deste ano. Salário: R$ 20.525,39
Mario Grieco (ministro de 2ª classe)
Não trabalha desde 2006. Só em julho de 2012, o MRE o notificou. Apenas em agosto do ano
passado, o memorando sugerindo sua lotação ficou pronto, no entanto, até agora não há
definição, e ele segue sem local de trabalho. Salário: 20.729,81
Renato Xavier (ministro de 2ª classe)
Sem nenhuma lotação desde o ano passado. Foi embaixador em Kingstown até julho de 2012. Salário: R$ 20.729,82
Fausto Martha Godoy (ministro de 2ª classe)
Sem nenhuma lotação desde dezembro do ano passado. Em 2011, trabalhou três meses numa missão em Bagdá. Em 2012, ficou em Bangladesh de abril até dezembro. Salário: R$ 20.729,82
Roberto Pires Coutinho (ministro de 2ª classe)
Não tem nenhuma lotação específica. Desligou-se da Escola Superior de Guerra em fevereiro do ano passado. Em abril, cumpriu missão de dois meses no Nepal. Em novembro do ano passado, foi para uma missão na Costa do Marfim. Só agora, cinco meses depois, seguirá para uma missão em Abdijan. Salário: R$ 20.729,82
Rolemberg Estevão de Souza (conselheiro)
Demitido em 1996, foi reintegrado em 2004 por decisão judicial. Trabalhou até 2007. Só foi notificado pelo MRE em julho do ano passado. A lotação dele foi proposta, mas até então não tem local de trabalho. Salário: R$ 17.384,92
Ilka Maria Lehmkuhl (conselheira)
Sem lotação desde 2006. O MRE alega que, por alguma falha no sistema, ela saiu do controle interno desde 2006. Salário: R$ 19.297,26
João Frederico Abbot Galvão (conselheiro)
Sem lotação desde 2001. O MRE não fala sobre o caso. Salário: R$ 19.297,26
Paulo de Mello Vidal (conselheiro)
Sem lotação desde 2009. O MRE não fala sobre o caso. Salário: R$ 17.384,92
Fausto Fernando Rocha Cardona (conselheiro)
Sem lotação desde 2009. O MRE não fala sobre o caso. Salário: R$ 17.384,92
Sérgio Sanginito Novaes da Silva (conselheiro)
Sem lotação desde 2003. O MRE não fala sobre o caso. Salário: R$ 17.384,92
Marcia Jabor Canizio (conselheira)
Sem lotação desde 2009. O MRE não fala sobre o caso. Salário: R$ 17.384,92
Pedro Paulo Hamilton (conselheiro)
Sem lotação desde julho de 2011. Em 2011, trabalhou 45 dias em São Tomé e Príncipe. De novembro de 2012 a janeiro deste ano, trabalhou em Bissau. Salário: R$ 19.297,26
Liana Lustosa Leal Musy (primeira-secretária)
Sem lotação desde 2008. Só foi notificada em janeiro de 2012. Continua sem trabalhar. Salário: R$ 16.180.

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