Que essa hora ia chegar, eu já sabia. Por mais que gostasse daqui, não dava para viver a vida toda longe da família, da boa culinária nordestina, do calor humano. E por falar em temperatura, não dava para viver outro inverno. Não com uma criança de dois anos presa em casa.
Então você está feliz em voltar, né? Ah… é… estou...
Felizes mesmo estão os amigos ingleses, e de toda parte desse mundo chamado Londres. Porque, convenhamos, negócio demais para eles: com a Copa do Mundo e a Olimpíada no Brasil, nada melhor do que ter uma amiga anfitriã, pronta para recebê-los daquele jeito que só brasileiro sabe…
Difícil convencê-los de que o Brasil não é o melhor país do mundo para viver. E nem sei se quero que pensem que não é. Vá, que pensem!
E que viagem o quanto antes para me visitar, porque certamente a saudade vai bater, e melhor que estejam por perto para me falar um pouco sobre o que anda acontecendo em West End, ou para me doutrinar sobre novas gírias que ainda estão por nascer.
É assim mesmo, essa coisa da mudança. Como dizem em inglês, um tal de “mixed feelings”, um mexidão de sentimentos. Algo “bittersweet”, bom e ruim, amargo e doce… tudo ao mesmo tempo.
Aí vocês me perguntam, do que mais sentirá saudades? De tudo e de nada, não… engano meu. Vou sentir saudades das estações do ano, do ritmo dos dias que passam.
É bom que esteja deixando Londres no outono, quando a cidade fica dourada, dando ideia de festa, renovação, recomeço. Sempre gostei do outono. É quando Londres fica ainda mais bela.
Há pouco tempo, nosso grande amigo Bruno veio nos visitar. Ele morou muitos anos aqui, agora vive em São Paulo. Mas nos seus tempos europeus, era praticamente um guia turístico, sabia tudo de Londres, até a história das estátuas espalhadas por toda a cidade. Eu ficava besta.
Agora, depois de pouco tempo vivendo no Brasil, Bruno chega aqui em casa abrindo mapa, e acabou cometendo o grande erro de me perguntar como se chegava a tal lugar.
Foi quando a minha ficha caiu.
Londres sempre estará aqui, é verdade. Mas, inevitavelmente, assim como um casal que se separa, perderemos a intimidade, a cidade e eu. E, se bobear, um dia viro simples turista. Dessas que ficam do lado esquerdo da escada rolante, irritando todos os londoners usuários do metrô.
Também sentirei falta das Cartas de Londres, dos comentários que vocês deixam aqui, dos mais carinhosos aos mais desaforados. Faz parte da democracia da Internet. “It is what it is”, dizem os ingleses. And it was wonderful!
Brasil, estamos chegando! E que venham novas emoções, descobertas, oportunidades.
Adeus, Londres. Hello, Brasília!
Mariana Caminha é formada em Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na Nottingham Trent University, Inglaterra. Casada, mora em Londres, de onde passa a escrever para o Blog do Noblat sempre às segundas-feiras. Publicou, em 2007, o livro Mari na Inglaterra - Como estudar na ilha...e se divertir
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