POLÍTICA
Waldson Carlos Alves Menezes, conhecido como Kçulo, pode ou não se reeleger prefeito de Itamari, pequena cidade do interior baiano, a 330 quilômetros de Salvador. Mas já fez história.
No vídeo que corre solto no YouTube, ele não só é flagrado comprando votos como mostra impressionante intimidade com a corrupção. Didático, o petista Kçulo compara política a uma feijoada. “O feijão é o voto e o dinheiro, o tempero”, ensina. “Se você tem o trocado, a feijoada sai gostosa, cheirosa e bonita.”
A parábola de Itamari é simbólica como todas. Cozida com os mesmos ingredientes que encheram a pança e hoje tiram o sono dos que agora estão no banco dos réus do julgamento da ação penal 470.
Kçulo sumiu. Seu crime, a compra de votos, é o mesmo que entra em pauta na sessão desta segunda-feira da Suprema Corte, quando começa o julgamento do núcleo político do mensalão.
A afirmação de seu advogado segue linha idêntica à dos petistas de primeira grandeza. Atribui tudo à oposição. Ainda que mais amena do que “elite suja e reacionária” e “golpe de conservadores”, usados pelo presidente nacional do PT Rui Falcão, em discurso de desagravo à condenação do deputado João Paulo Cunha, a tese de atribuir o pecado ao adversário é a mesma.
Combina também, em gênero e todos os graus, com a pregação de Lula. O ex-presidente não comparou política a uma feijoada - preferia alegorias futebolísticas -, mas defendeu a prática de ilícitos dos seus partindo de princípios muito semelhantes: os de que a política tem os seus vícios, todo mundo peca, malfeito todo mundo faz.
E foi ainda mais longe. Chegou a admitir que engrossara o caldo por demais – “Humildemente, reconheço que nós fizemos coisas erradas. Mas com tudo de errado que fizemos, o país melhorou muito”, disse, em outubro de 2006, misturando na mesma cumbuca um mea-culpa e o “rouba, mas faz” que imortalizou Adhemar de Barros.
A versão só durou enquanto temia que dessalgassem o seu mandato. Depois disso, negou o tempero e até o feijão.
Amanhã, o ministro relator Joaquim Barbosa abrirá os trabalhos pelos políticos que receberam dinheiro do esquema: Pedro Corrêa e Pedro Henry, do PP; Valdemar Costa Neto, do extinto PL, atual PR; Roberto Jefferson e Romeu Queiroz, do PTB; e José Borba, do PMDB.
O ex-ministro José Dirceu, apontado como chefe da quadrilha pelo procurador-geral, o ex-presidente do PT José Genoíno e o ex-tesoureiro Delúbio Soares fecham a fila.
Se condenada for, Lula ainda tentará fazer crer que essa trinca jamais pertenceu à sua panela. Duvidam?
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
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