domingo, 16 de setembro de 2012

CRÔNICA - Cartas de Toronto: Por uma vida com mais hóquei...




Canadenses e (alguns) americanos viciados em hóquei roem as unhas enquanto esta carta está sendo escrita. Eu explico. Desde junho deste ano, jogadores e gerentes de times espalhados pelos Estados Unidos e Canadá negociam os termos trabalhistas da próxima temporada.
Enquanto escrevo, passam-se as últimas horas do prazo dado pelo dirigente da National Hockey League (NHL) Gary Bettman para um acordo.
Hoje pode ser o dia em que o país acorda com a expectativa de um inverno sem grandes emoções. Um inverno sem o Montreal Canadians, o Vancouver Canucks e, o time mais caro da liga, o Toronto Maple Leafs.
Já escrevi aqui sobre a paixão do canadense pelo hóquei, mas acredito que carta nenhuma dará a proporção do quanto o esporte afeta as mentes e os corações do país.
“Aprenda a discutir hóquei” foi o conselho profissional mais valioso que recebi de um amigo também imigrante. No Brasil, eu até conseguia passar desapercebida sem comentar os sucessos (cof.. cof...) do meu Vascão. Por aqui, o meu IBOPE é afetado se eu não estiver preparada para defender o meu amor pelo Montreal Canadians durante os cafezinhos (e chopes) com colegas de escritório. (Sim... eu tenho uma vocação estranha para escolher times com desempenhos interessantes...).
Numa semana em que o mundo literalmente explode em incertezas, a NHL ganha quase que o mesmo espaço que os protestos no Oriente-Médio nos jornais locais.
Estariam os canadenses com medo de ter parte de sua identidade perdida durante um inverno rigoroso? Corremos – imigrantes e canadenses – o risco de perder essa conexão valiosa? Esse elo único que mantem uma sociedade multicultural unida pela conquista da Stanley Cup? Como seria viver sem uma temporada de hóquei?
Interrompo a piada do marido, nascido e criado canadense, durante a partida do Toronto Blue Jays para perguntar sobre as reivindicações dos jogadores de hóquei.
Ele concorda que a carreira de atleta profissional é curta e que eles precisam lutar por melhores contratos, mas se cala e olha para o chão quando nossa amiga brasileira diz que quem sofre no final são os torcedores.
Depois de alguns momentos de silêncio, o maridão me sai com a seguinte pérola:
– Baby, a gente pode ir assistir o Hamilton Bulldogs jogando contra o Marlis! É uma liga menor, mas é Hóquei!
Ai, se todos os problemas do mundo pudessem ser resolvidos com esse otimismo canadense...

Olimpíadas de 2010 - Foto: Veronica Heringer

Veronica Heringer é jornalista formada pela PUC-Rio, mestre em media production pela Ryerson University e estrategista em marketing digital. Bloga no Madame Heringer.com e escreve para o Blog do Noblat aos domingos

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