BELO HORIZONTE - Nem a ruína de suas agências de publicidade nem a exposição pública como operador de um esquema clandestino de distribuição de recursos a políticos impediram Marcos Valério Fernandes de Souza de ampliar seus bens. Duas casas milionárias na região da Pampulha, em Belo Horizonte, são as novas aquisições do lobista e não fazem parte do bloqueio imposto pela Justiça desde a descoberta do mensalão. Para fugir de impedimentos judiciais, Valério registrou os imóveis em nome da filha mais velha, hoje com 21 anos.
A primeira casa foi comprada em abril de 2009 por R$ 550 mil e valia R$ 1 milhão à época, segundo registro do 6º Ofício do Registro de Imóveis de Belo Horizonte. A segunda foi adquirida há sete meses do dentista Luiz Henrique Lage, que não quis informar ao GLOBO o valor da venda nem dar detalhes do negócio. Oficialmente, a transação foi registrada por R$ 500 mil.
As casas guardam semelhanças: são luxuosas, têm dois andares, piscinas, estacionamento para veículos e estão protegidas por muros altos, com direito a guarita de segurança e câmeras. Ficam a poucos metros uma da outra, no vetor norte da capital mineira, região em franca valorização por causa da proximidade com a Cidade Administrativa do governo de Minas, construída recentemente.
Os outros bens de Valério também estão registrados em nome da filha, mas como estão vinculados a registros de usufruto dele e de sua esposa, Renilda Santiago, foram bloqueados pela Justiça. E não apenas em função da determinação do ministro Joaquim Barbosa, que solicitou a medida em 2005 em razão de ação cautelar proposta no Supremo Tribunal Federal pelo Ministério Público Federal. Nos registros de imóveis de Valério há menção a ações contra ele em Sete Lagoas, Contagem e Brumadinho, todas no interior de Minas, com igual pedido de sequestro de bens.
Oficialmente, Valério tem uma sala comercial no bairro Santo Antônio, um terreno de 11 mil metros quadrados com galpão, onde funciona uma floricultura, no bairro Bandeirantes, uma casa no bairro Castelo (onde morava quando o mensalão veio à tona) e um apartamento no bairro Padre Eustáquio, comprado em 1993 com financiamento. A medida judicial não impede Valério de alugar imóveis.
O lobista vive hoje em uma das novas casas, na Rua Expedicionário Nilo Morais, no bairro São Luiz. É visto com pouca frequência nas ruas, só sai de carro com vidros fechados e, às vezes, cumprimenta vizinhos. Já a segunda casa, na Rua Pavia, no bairro Bandeirantes, está locada para uma família. O inquilino se referiu a Valério como “uma pessoa simpática” e disse que já tentou comprar o imóvel dele, sem sucesso.
— Se existem, como você afirma, casas registradas no nome da filha mais velha de Marcos Valério, os imóveis não são dele, mas da filha, que naturalmente faz sua própria declaração de bens e rendas à Receita Federal com informação sobre origem de seus recursos — alegou ao GLOBO o advogado de Valério, Marcelo Leonardo.
Na última semana, Valério foi fotografado mais uma vez saindo do escritório na região da Savassi, em Belo Horizonte, onde despacha com o amigo e companheiro no banco dos réus do mensalão, o advogado Rogério Tolentino, dono da T&M Consultoria. Foi por meio dela que Tolentino e Valério continuaram lucrando com o governo.
A T&M foi contratada por pouco mais de R$ 200 mil pela modesta empresa ID2 Tecnologia, de Brasília, meses antes de assinar contratos com cinco ministérios — que somam R$ 52 milhões, desde 2009. Só o primeiro contrato, de R$ 14,9 milhões, com o Ministério do Turismo, foi superfaturado em R$ 11 milhões, de acordo com análise da Controladoria-Geral da União concluída no fim de 2011, conforme mostrou O GLOBO.
O ministério ainda não tomou providência para pedir a devolução do dinheiro. Criou um grupo de trabalho para analisar o contrato em 20 dias, mas o prazo já foi prorrogado cinco vezes. O prazo atual é 10 de agosto.
Marcos Valério nega trabalhar para T&M e ter relação com o contrato. Tolentino confirma a consultoria para a ID2, mas a empresa nega e afirma que os serviços para o governo foram prestados.
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