SÃO PAULO - Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes trocaram acusações há dois meses, José Dirceu entrou em campo para reclamar da briga e pôr panos quentes. Para Dirceu, Gilmar era um voto praticamente certo pela sua absolvição no julgamento do mensalão, e o atrito, a última coisa de que precisava.
O comportamento do ex-chefe da Casa Civil parece contraditório a interlocutores. Ele alterna momentos de confiança plena em sua absolvição com o temor de ser condenado pela participação no financiamento de petistas e aliados.
A assessores mais próximos, disse não saber o que será de sua vida daqui a dois meses. Também não faz planos e adia discussões em torno de uma eventual candidatura em 2014.
Desde a saída do ministério de Lula e da cassação de seu mandato como deputado federal, em 2005, Dirceu se divide entre o papel de líder político e consultor de empresas que muitas vezes dependem de decisões do governo que ele ajudou o PT a conquistar em 2002.
Não se incomoda com a vida dupla, pelo contrário: dela parece tirar proveito. Recebeu o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o então presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, em quarto de hotel de Brasília para tratar de política, às vésperas da queda de Antonio Palocci, então ministro da Fazenda. É também quem representa no Brasil os interesses do homem mais rico do mundo, o mexicano Carlos Slim, dono da Embratel, embora negue.
O ex-ministro não revela a sua lista de clientes. Fala que ajuda empresas estrangeiras interessadas em negócios no Brasil e companhias brasileiras com interesses no mercado externo. A colegas de partido, Dirceu justifica suas atividades de consultor como necessárias para financiar sua defesa, na guerra que vive desde a sua cassação.
Desde 2010, integra o diretório nacional do PT, mas nunca deixou de cuidar da articulação com outros partidos. É amigo do presidente petista, Rui Falcão. Os dois têm casa no mesmo condomínio de luxo, em Vinhedo, no interior de São Paulo.
Com Lula, tem relação de respeito e desconfiança. Em conversa com seus interlocutores, antes da crise do mensalão, Lula se referia a Dirceu como a maior cabeça política do partido, mas também como alguém com particular capacidade de mentir.
Para evitar a execração pública, Dirceu só viaja em jatos executivos e não vai a restaurantes em São Paulo.
No auge da crise do mensalão, em 2005, dizia:
— Se eu sair, o governo cai.
Errou. Lula foi reeleito e escolheu a sua sucessora.
Dirceu pagou metade do preço por casa em área nobre de SP
José Dirceu comprou um imóvel de R$ 3 milhões numa das áreas mais caras de São Paulo por quase metade do preço avaliado pela instituição que financiou o negócio, o Banco do Brasil. Dirceu pagou R$ 400 mil à vista e pegou empréstimo de R$ 1,2 milhão com o banco. A venda ocorreu em maio deste ano e foi registrada em junho. No local, funciona a empresa de consultoria por meio da qual o ex-ministro presta serviços desde quando teve o mandato de deputado cassado, em dezembro de 2005.
A casa tem 501 metros quadrados na Avenida República do Líbano, a 300 metros do Parque do Ibirapuera. Para aprovar o financiamento, o banco fez uma avaliação do imóvel e concluiu que o seu valor de mercado é de R$ 3.034.000.
O ex-ministro assumiu o compromisso de pagar 161 prestações no valor inicial de R$ 29.963,80. De acordo com as regras do banco, o mutuário pode comprometer, no máximo, 30% do seu orçamento com a prestação mensal, o que indica que Dirceu tem renda mensal de, pelo menos, R$ 100 mil.
A JD Assessoria e Consultoria funciona na ampla casa da Avenida República do Líbano desde junho de 2009, segundo o contrato social da empresa. O imóvel era locado desde o fim de 2008 dos irmãos Cecília Leme da Fonseca Oliveira e Ruy Leme da Fonseca, que receberam a casa por herança.
Ao serem procurados para explicar por que deram um desconto de R$ 1,4 milhão na venda, Cecília, dona de casa, e Ruy, fazendeiro no município de Miguelópolis (SP), não quiseram dar entrevistas.
Por meio de seus advogados, os dois informaram que o preço teria sido estabelecido há quatro anos e levou em consideração “o estado deteriorado da casa, os altos custos de manutenção e a complexa regulamentação documental”.
No entanto, o imóvel, aparentemente em bom estado, já estava oficialmente registrado em nome dos irmãos desde setembro de 2011.
— É uma área com valor muito alto — afirma Elbio Fernández Mera, vice-presidente de comercialização do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais).
— O preço do metro quadrado ali varia entre R$ 5.800 e R$ 7.000, dependendo do estado de conservação e da quantidade de vagas — completa Cristiano Araújo Souza, gerente de vendas da Lello Imóveis. No negócio, Dirceu pagou R$ 3.200 pelo metro quadrado.
Procurado por meio de sua assessoria, José Dirceu se negou a comentar a compra por se tratar de um assunto privado
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