Adriana Carranca - Enviada Especial a Londres
LONDRES - Em entrevista ao Estado, em Londres, Marina Silva disse que o governo brasileiro tentou "apequenar" a sua participação na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos 2012, ontem, "em uma disputa política". A ex-ministra chorou ao saber sobre a reação da presidente Dilma Rousseff e de ministros e disse que a equipe de Dilma "não sabe separar as coisas."
Jonne Roriz/AE
Marina Silva segura bandeira ao lado de Muhammad Ali e Ban Ki Moon.
A convite do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres (Locog), Marina entrou carregando a bandeira olímpica na festa de abertura do evento, ao lado de nomes como Haile Gebrselassie, Ban Ki Moon, Shami Chakrabarti e Muhammad Ali. Ela é reconhecida internacionalmente por sua luta em defesa do meio ambiente. A situação gerou constrangimento, porque Marina é adversária política de Dilma, cuja presença como presidente do país que será a próxima sede dos Jogos Olímpicos foi ofuscada pela ex-ministra.
"Não acho que a gente deve apequenar isso em uma disputa política. Aqui é o interesse maior do Brasil. Isso me entristece", disse Marina, no Hotel Corinthia, onde está hospedada a convite do Locog, na capital londrina. A ex-ministra disse que esperava apoio da comitiva brasileira e, principalmente, da presidente Dilma para a sua participação. "Meu apelo é para a presidente Dilma: que a causa que eu represento, e ali não era eu como figura política, não seja uma afronta para o Brasil, que seja uma dádiva. Porque eu tenho tanto respeito pelo Brasil pela nossa história e a presidente Dilma sabe como, na minha divergência, eu sou leal. As pessoas com quem eu convivi durante 30 anos não são meus inimigos. Do mesmo jeito que eu fico feliz de ver as autoridades brasileiras cumprindo seu papel num evento dessa magnitude, eu imaginava que, nesse momento, eles não misturariam as coisas. Eu estou aqui em nome de uma causa que na história do Brasil é de todos nós. Começou lá atrás com o Chico Mendes e o presidente Lula, como companheiro do Chico Mendes, tem participação nisso."
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ironizou a participação da ex-ministra no evento dizendo que o motivo foi o fato de que "Marina sempre teve boa relação com as casas reais da Europa e com a aristocracia europeia". Os dois são inimigos políticos desde que bateram de frente nas discussões sobre o Código Florestal. Marina, no entanto, preferiu "relevar" as declarações do ministro. E disse que gostaria que Rebelo "entrasse no espírito olímpico sugerido por aquela cerimônia". "Não quero apequenar esse momento com qualquer tipo de desconstrução da grandiosidade de saber que o Brasil é uma referência na luta ambiental pelo mundo. Desconsiderar isso é o mesmo que desconsiderar toda a contribuição dada pelo PT na construção da democracia brasileira", reagiu."Eu estava ali pela causa que defendemos do desenvolvimento sustentável, quando digo defendemos, falo de todos aqueles que acreditam que o mundo precisa mudar. Não sou oposição ao governo da presidente Dilma, eu apenas tenho uma posição. Mas há quem não entenda assim."
Segundo Marina, o convite do Locog para participar da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres também a surpreendeu. Os organizadores a sondaram no domingo para saber se concordaria com o uso de sua imagem no evento e apenas na terça-feira confirmaram como seria a sua participação. Marina desembarcou em Londres na quinta-feira. Sobre manter segredo, disse que foi instruída pelo Locog. "Eu fiz como eles me disseram. Falei apenas com meus filhos e marido e pedindo a eles segredo. Não tinha como revelar isso ao governo, a ninguém. Foi um pedido", disse. "Vim para cá com o espírito olímpico de lutar pelo Brasil, pela paz, pelo desenvolvimento sustentável e eu posso te dizer que quando passei ali diante das autoridades, eu senti uma boa dose de orgulho de saber que nesses 500 anos de história do Brasil nós tínhamos eleito a primeira mulher presidente da República. Era esse espírito que estava ali presente." Marina disse que as críticas do governo não importam. "O mais importante é que estou fazendo meu trabalho. E isso ficará como legado para o Brasil."
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