sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O PT E A TERCEIRIZAÇÃO ANÔNIMA DA OFENSA


João Bosco Rabello
Estadão
De novo na pauta policial, com a decretação da prisão do deputado João Paulo Cunha (SP), ex-presidente da Câmara, o PT produz um daqueles episódios destinados a engrossar o catálogo de ações dos  “aloprados”..  Tornou-se recorrente no partido o recurso de atribuir a vândalos não autorizados ações premeditadas que têm endosso da direção.
Tão cômodo quanto surrado, o método reflete a dificuldade do partido em promover a mudança que seria natural após um escândalo com as consequências do mensalão. Mantém a estratégia do texto apócrifo, como os dossiês que confeccionou em diversos momentos da luta política recente, sempre com o intuito de desqualificar adversários para tangenciar o debate.
Agora foi a vez do governador Eduardo Campos (PSB-PE) e sua provável companheira de chapa na disputa presidencial, Marina Silva, atacados em página oficial do partido no facebook , sem que a direção desautorize o texto , mas dele se desvinculando. Não há crítica, mas ofensa, em tom infantil, como a raposa da fábula que desdenha o que seu limite animal a impede de alcançar.
O adesismo de que acusa Campos e Marina denota, no mínimo, dificuldade de compreender aquilo que vocaliza. O termo se ajusta a quem troca de posição para obter vantagem, entregando-se a uma zona de conforto que se mostrou mais forte que a determinação de enfrentar o que lhe parece errado.
Trocando em miúdos, o adesismo, na política, é comumente aplicado àquele que deixa a oposição para se beneficiar das facilidades atrativas de governos, especialmente em fase eleitoral. Não o contrário, caso de Campos e Marina que abriram uma dissidência quando os índices de aprovação da presidente Dilma Rousseff ainda habitavam a estratosfera.
ANONIMATO
De tanto valer-se do anonimato das redes, estimulado pela omissão do Estado em nome de uma pseudo liberdade de expressão, o PT fez migrar o método para sua página oficial, sem qualquer constrangimento. O que chama a atenção, mais que o conteúdo – este, sim, tolo -, é a falta de assinatura, de pessoa física ou institucional, num  reconhecimento do caráter imoral do gesto.
O partido passa recibo também do incômodo com a candidatura do PSB, que lhe tira o monopólio da esquerda, ainda que o conceito que põe o PSDB à direita seja realidade apenas como conveniência do partido de Lula. Mesmo no seu distorcido manual ideológico, o PSB não é encaixável à direita. É um incômodo dissidente.
Daí a tese do adesismo invertido: Campos e Marina, porém, ampliaram muito as suas dificuldades ao migrarem para a oposição, perdendo o conforto que poderiam ter no governo. O PT trai esse fato ao criticar Campos por não esperar por 2018, quando seria o candidato natural à sucessão de Dilma.
O que é puro diversionismo. O PT não inspira confiança em nenhum aliado. Não faz parte de seus mandamentos honrar  compromisso político, do que se queixam dezenas de vítimas de acordos descumpridos, entre elas fundadores da legenda decepcionados com o rumo fisiológico tomado pelo partido.
O episódio do facebook compromete a cúpula do partido e justifica a suspeita retroativa para versão de desconhecimento sustentada para os episódios anteriores, que envolveram crimes como o de quebra do sigilo de adversários e de seus familiares, na confecção de dossiês falsos.
O termo “aloprado”, confirma-se agora, é uma esperta forma de blindar o partido das consequências, políticas ou legais, dos malfeitos de seus correligionários, viabilizando a ofensa sem o ônus de responder por ela.
A atitude da direção do PT está para a política como a dos dirigentes de clubes para a violência nos estádios: ambos fingem não saber – e negam estimular – o que seus militantes/torcedores fazem.
A diferença é que no futebol os clubes começam a ser punidos pelas ações de seus torcedores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário