sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Administração eficaz precisa de permanência - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 10/01
O excesso de servidores estranhos aos quadros do Governo do Distrito Federal lembra lição de Georges Clemenceau. "A guerra", disse o estadista francês, "é séria demais para ser deixada nas mãos dos generais". Mudando o que deve ser mudado, os números mostrados por duas reportagens do Correio Braziliense publicadas esta semana permitem afirmar que a administração pública é importante demais para ser deixada nas mãos de comissionados.
Do total de funcionários que ocupam cargos de confiança nos órgãos do GDF, 84% são apadrinhados políticos. A maior parte figura na folha de pagamento da capital por ser amiga do rei - seja do Executivo, seja do Legislativo. É assustador saber que a administração do Sudoeste/Octogonal conta com 98% de profissionais indicados por políticos. A do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) empata com a do Guará: 96%. As demais exibem percentual próximo ao das campeãs. A única exceção é a do Varjão.

As secretarias não ficam atrás. Na da Micro e Pequena Empresa, nada menos que 93,4% dos servidores ocupam cargos sem ter passado por recrutamento público. Na do Idoso, com dois anos de existência, só um concursado tem vez. Os restantes 62 funcionários com assento nas instalações da pasta caíram de paraquedas, premiados por padrinhos, não raro em paga por serviços prestados.

Com a urbanização e o crescimento das cidades, a administração pública ganhou complexidade inimaginada décadas atrás. Precisa contar com quadros não só qualificados, mas também altamente comprometidos com a função que exercem. Para fazer frente às exigências, não bastam boas intenções nem juras de esforço e dedicação. Os servidores têm de ter estabilidade, motivação, treinamento constante e remuneração capaz de atrair talentos. Não só. Plano de carreira que permita a progressão funcional apta a evitar evasão dos melhores.

São requisitos que comissionados não podem atender, sobretudo pela condição de transitoriedade. Mudança no comando do órgão, no prestígio do padrinho ou no loteamento do setor promove dança das cadeiras. O descartado leva consigo a memória da instituição. O substituto não tem saída - começa do zero. Como Sísifo, condenado pelos deuses a carregar uma rocha para o alto da montanha e, ao chegar lá, ela rolava, e ele reiniciava a tarefa, a administração está condenada ao eterno recomeço.

O grande perdedor do jogo de privilégios é o cidadão. Como diz o próprio nome, o serviço público existe para servir ao público. Não é, porém, o que ocorre. O contribuinte, que paga o preço da máquina estatal com impostos extorsivos, não recebe a contrapartida. A burocracia parece existir para atrapalhar, não para exercer o papel para o qual for criada. Impõe-se guinada efetiva no setor. Brasília, com pouco mais de meio século de vida, não pode reproduzir o atraso. Precisa ser exemplo de vanguarda.

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