domingo, 24 de março de 2013

Cartas de Toronto: Pelo direito de ser quem você é



Veronica Heringer
Seis anos de expatriada definitivamente me transformaram em estrangeira quando assuntos como inclusão cidadã e direitos humanos estão em pauta.Mas a distância também me permite apreciar ainda mais quem luta no Brasil por igualdade entre os seus cidadãos, sejam eles brancos, pardos, mulheres, crianças, gays ou transexuais.
Enquanto o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Marco Feliciano (PSC-SP), insiste em inviabilizar discussão de direitos importantes de cidadãos (e contribuintes!) no Brasil; por aqui, a preocupação com a inclusão cidadã dos canadenses continua mesmo sob a liderança de um governo ultra conservador.
Quem segue os meus relatos sabe que não sou grande fã do Partido Conservador Canadense. No entanto, na última semana, o apoio de 18 conservadores na aprovação da lei C-279, que transforma em ilegal qualquer ato discriminatório contra transsexuais, trouxe um pouco de esperança ao meu coração de new democrat.
O projeto de lei iniciado por Randall Garrison, passou pelo microscópio e ataques de todos os representantes conservadores. O maior deles veio do parlamentar de Calgary Rob Anders que momentos antes da votação argumentou que a “milhares de canadenses eram contra a ‘lei do banheiro.’” Segundo Anders, pedófilos usariam a lei para se proteger ao assediarem mulheres e crianças em banheiros públicos.
É inquestionável que o apoio de 18 conservadores soa irrelevante quando o resto da bancada (136 parlamentares) vota contra a mesma lei. No entanto, no contexto político canadense, onde o partido se une pela defesa de seus valores em qualquer tópico, o apoio de 18 conservadores sinaliza tempos de mudança e até mesmo o início de um novo posicionamento para o partido.


A C-279 segue para aprovação final do Senado. Depois de aprovada, ataques à expressão e identidade sexual serão considerados atos discriminatórios no código de Direitos Humanos canadense e crimes previstos no código penal do país.
Perante a nova lei, discursos contra a sexualidade de um determinado indivíduo ou grupo serão punidos da mesma forma que os baseados em etnia e religião.
Agora é fazer figa e esperar que a revolução no partido conservador se estenda a assuntos relacionados à imigração e direito das mulheres.

Veronica Heringer é bacharel em Jornalismo pela PUC-Rio, mestre em Media Production pela Ryerson University e estrategista em marketing digital. Bloga noMadame Heringer.com 

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