CARLOS VIEIRA
Mulher, Salve Regina, mãe de Cristo, ser ousado, corajoso, que atendeu à serpente no Paraíso e nos deu humanidade. Caso este ato de irreverência, ousadia e transgressão não tivesse acontecido, o que seria de nós? Anjos, anjos puros, seres indiferenciados, no limbo, sem amor e sexualidade. Daí a expressão bíblica e literária: somos “Anjos Caídos”. Mulher, fêmea, animal, gente, aquela que nos concebeu com tolerância à espera, capacidade de recusa, gritos, sussurros e sorrisos de amor, de alegria ao vê seu bebê vivo, chorando, gritando e denunciando vida. Mulher que sofre quando seu filho cresce, mulher que se contenta quando sua cria se desenvolve, transforma-se em adulto.Mulher que geme a cólica do infante, que estranha sua sexualidade quando grávida e oferece a seu recém-nascido todo seu amor, dedicação, tempo e sua vida.Mulher que aborta, de propósito ou contra seu anseio.Fêmea que mata, que odeia e ao mesmo tempo ama.Ser humano que se dedica, que se escraviza e que sente prazer numa relação sadomasoquista; mulher de bandido.Mulher que inveja, mulher que se complementa com seu homem, cria uma parceria, mulher que cresce, mas sob o domínio da “serpente verde”, a inveja, faz e acontece, luta, briga, mata, escraviza os homens para negar sua feminilidade. Sempre pensei que a mulher nasce aberta, com sua fissura vaginal e o homem é fechado. Que vantagem da abertura! Inacabada, incompleta, aberta para expansão e liberdade. Ás vezes, as mulheres não se dão conta dessa vantagem! Mulheres de Atenas, lutadoras, mulheres do campo, mulheres da roça, mulheres que conseguiram se desprender do cativeiro. Sherazade, exemplo de astúcia, a primeira emancipação ao poder masculino. Negras, vindas da África. Mulheres intelectuais, executivas, ministras e até presidente da república. Mulheres santas, Joana D’Arc, Santa Teresa D'Ávila, filósofa, teóloga, mulher que teve a capacidade de se livrar da sua carnalidade e se tornar santa. Mulher, carmelita descalça, que oferece sua vida para ser “esposa de Cristo”. Mulher que transa, que não transa, mulher que ama e odeia o homem que a ama e odeia. “Há uma mulher.sente por mim o que eu sinto por ela, me odeia, me ama.Quando ela me odeia eu a amo, quando ela me ama, eu a odeio.Não existe outra possibilidade.” Fragmento do livro de Peter Estherházy,”Uma mulher”,Ed.Cosac Naify,2010,SP.Mulher sensual, sensitiva, histérica, madura. Mulher da rua, prostituta que carrega sua angústia do vazio e de não ter tido afeto e oportunidades. Mulheres que amam mulheres, onde a homossexualidade é uma escolha e um modo de ser-no-mundo. Mulheres inférteis, desesperadas e angustiadas com a impossibilidade de não criarem. Filhos adotados por mulheres que ás vezes são mais verdadeiras que as mães que os pariram.Mulher que cria, que faz da arte a maneira de tornar o mundo mais vivível: Clarice Lispector, que dizer dessa pessoa inquieta, “louca-sana” que através da sua caneta descreve o pensamento humano? Em seu belo livro, “Água Viva” mostra a arte dolorosa de criar, de por em palavras o pensamento e de intuir, antes do próprio pensamento, as contrações de ideias ainda indizíveis.Verdadeiro monólogo sobre a arte da criação literária. E na “Paixão Segundo G.H.”outra obra brilhante sua, olha o insight que só se realiza em sua própria autoanálise:” Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema.” ... mas porque não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.” “Talvez o que me tenha acontecido seja uma compreensão – e que, para eu ser verdadeira, tenho que continuar a não estar à altura dela, tenho que continuar a não entendê-la.Toda compreensão súbita se parece muito com uma aguda incompreensão.” Mulher esposa, companheira, cúmplice, acolhedora, às vezes distantes, às vezes perto demais, mas sempre dando um sentimento de certeza do seu afeto.Mulher filha, menina-mulher, grata e ingrata, amorosa, possessiva, menina, sempre menina.
Deixo o leitor com um fragmento de Folhas de Relva, obra do grito de liberdade de Walt Whitman(1819-1892), poeta americano, cânone da Literatura Universal:”Não se envergonhem, mulheres:é de vocês o privilégio de conterem os outros e darem saída aos outros – vocês são os portões do corpo e são os portões da alma.A fêmea contém todas as qualidades e a graça de as temperar, está no lugar dela e movimenta-se em perfeito equilíbrio, ela é todas as coisas devidamente veladas, é ao mesmo tempo passiva e ativa, e está no mundo para dar ao mundo tanto filhos como filhas, tanto filhas como filhos. Assim como a Natureza eu vejo minha alma refletida, assim como através de um nevoeiro, eu vejo Uma de indizível plenitude e beleza e saúde, com a cabeça inclinada e os braços cruzados sobre o peito – A Fêmea eu vejo.”
Deixo o leitor com um fragmento de Folhas de Relva, obra do grito de liberdade de Walt Whitman(1819-1892), poeta americano, cânone da Literatura Universal:”Não se envergonhem, mulheres:é de vocês o privilégio de conterem os outros e darem saída aos outros – vocês são os portões do corpo e são os portões da alma.A fêmea contém todas as qualidades e a graça de as temperar, está no lugar dela e movimenta-se em perfeito equilíbrio, ela é todas as coisas devidamente veladas, é ao mesmo tempo passiva e ativa, e está no mundo para dar ao mundo tanto filhos como filhas, tanto filhas como filhos. Assim como a Natureza eu vejo minha alma refletida, assim como através de um nevoeiro, eu vejo Uma de indizível plenitude e beleza e saúde, com a cabeça inclinada e os braços cruzados sobre o peito – A Fêmea eu vejo.”
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.
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