quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

POEMA DA NOITE Elogio ao Alexandrino - Sousândrade



Asclepiádeo verso: à evolução do poema 
Das sestas, cadenciar d’altas antigüidades, 
já porque bipartido em fúlgidas metades 
Reata em conjunção opostos de um dilema, 
E já por ser de gala a forma do matiz 
Heleno na escultura e lácio na linguagem 
Reacesda, de Alexandre, em fogos de Paris: 
Paris o tom da moda, o bom gosto, a roupagem; 
Que desperta aos tocsins, galo às estrelas d’alva, 
Que faz revoluções de Filadélfia às salvas 
E o verso-luz, fardeur das formas, de grandeza, 
o verso-formosura, adornos, lauta mesa 
Ond’ tokay, champanh’, flor, copos cristal-diamantes 
Sobrelevam roast-beef e os queijos e o pudding. 
Porém, mens divinior, poesia é o férreo guante: 
Ao das delícias tempo, o fácil verso ovante, 
o verso cor de rosa, o de oiro, o de carmim, 
Dos raios que o astro veste em dia azul-celeste; 
E para os que têm fome e sede de justiça, 
O verso condor, chama, alárum, de carniça, 
D’harpas d’Ésquilus, de Hugo, a dor, a tempestade: 
Que, embora contra um deus “Figaro” impiedade 
Vesgo olhinho a piscar diga tambour-major, 
Restruge alto acordando os cândidos espíritos 
Às glórias do oceano e percutindo os gritos 
Réus. Ao belo trovoar do magno Trovador 
Ouve-se afinação no mundo brasileiro, 
Acorde tão formoso, hodierno, hospitaleiro, 
Flamívomo social, encantador. Fulgura 
Luz de dia primeiro, a nota formosura, 
Que ao jeová-grande-abrir faz novo Éden luzir.

Joaquim de Souza Andrade, Sousândrade, (Vila dos Guimarães, Maranhão, 9 de julho de 1832 - São Luís, Maranhão, 21 de abril de 1902). Formou-se em Letras pela Sorbonne em Paris, onde também estudou Engenharia. Permaneceu na Europa por muitos anos, viajou muito e conheceu também as repúblicas latino-americanas. Foi um poeta da fase romântica brasileira, e por muitos de sua época, considerado como louco. É patrono da cadeira 18 da Academia Maranhense de Letras. 

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