quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Os benefícios do mensalão, por Carlos Chagas


O país fica devendo ao Supremo Tribunal Federal não apenas a condenação de bandidos que avançaram em recursos públicos, formaram quadrilha, praticaram corrupção ativa e passiva e, acima de tudo, compraram deputados com mensalidades de 30 mil reais, muitos até agora desconhecidos, em troca de votarem com o governo Lula. Tudo é salutar, em especial quando se tem como próxima a prisão por muitos anos de 25 mensaleiros, alguns em regime fechado.

São salutares esses resultados, como a demonstrar estarem as coisas mudando, sendo a lei igual para todos – ou quase todos.
Ressalte-se, porém, outro grande benefício para a sociedade, a partir do início do julgamento. A participação de figuras exponenciais na lambança serve para mostrar as entranhas do PT, um partido que se dizia diferente mas acabou flagrado nos mesmos crimes de outros. Deixou de existir aquele funesto perigo de a legenda dos companheiros tornar-se absoluta, à maneira de nazistas e comunistas, tanto faz. Interrompeu-se uma progressão infernal.
Da mesma forma, as revelações que ainda se sucedem estão servindo para golpear de forma definitiva o culto à personalidade que vinha transformando o Lula numa espécie de semi-deus, messias situado acima do bem e do mal. Sabendo ou não do que se passava à sua sombra, autorizando ou não o mensalão, o ex-presidente aparece agora como homem comum, sujeito aos percalços e às tentações de todos nós. Estamos escapando do mito que um dia elevou tantos ditadores às alturas, para depois despencá-los nas profundezas. Melhor assim.
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VOLTA LOGO, “SEU” AMADOR
Entre quantos já se foram, quantos fazem falta monumental? Milhões. Vamos citar um, o “seu” Amador Aguiar, que não usava meias e fundou o maior banco privado de nossa crônica, o Bradesco. Como seria bom se estivesse de volta, exprimindo sua preocupação maior, de cuidar e atender o correntista como se fosse sócio majoritário da instituição.
Agora é diferente. No final de novembro a gerente de minha modesta conta corrente procurou-me. Como sempre, trazia propostas para aplicações que, dizia ela, me fariam mais rico. Ou menos pobre, acrescentei. Acatei, como todos os anos, aquela mudança de cifras e números cuja maior vantagem ficará para minha mulher, no caso de haver chegado meu fim do mundo particular. A quantia poderia ser liberada de imediato, sem necessidade de inventário.
Como a demonstrar uma atenção digna das festas de fim de ano, a jovem presenteou-me com um regalo: cancelaria o meu cartão de crédito Visa Platinum Prime, que funciona nas horas de aperto, trocando-o por outro, Visa Prime Infinite. Sem saber direito a diferença, agradeci e fiquei esperando. Realmente, na primeira semana de dezembro, em nossa residência, chegaram o meu cartão e o de minha mulher, dependente. A nova senha deveria ser esperada em três dias.
O mês quase terminou sem os números. E sem cartão, com o velho cancelado e o novo sem funcionar. Ontem, depois de intermináveis ligações com centrais que tocam música e custam a atender, fui atendido. A primeira informação foi de que eu deveria procurar a agência onde tenho conta, em Brasília, onde moro há 40 anos, lá utilizar o cartão e pronto. Como, sem senha?
Logo depois, mudou tudo, em outra central que me localizou: uma suposta terceira pessoa havia solicitado, quem sabe recebido, em meu nome, um outro cartão de dependente. Uma tal Rosa, cujo sobrenome omito, residente na rua Tomé, num jardim em São Paulo. Possivelmente uma meliante, mas caso eu não tivesse buscado informações a respeito da senha perdida, ficaria tudo como estava, ou seja, mais um mês sem que pudesse utilizar o cartão, justamente na época de comprar presente para os netos, no Natal. E com um risco dos diabos de que dona Rosa estivesse se fartando de usar indevidamente o meu nome, coisa ainda a conferir.
Prometeram que em três dias tudo estará normalizado, com dois novos cartões e senhas. Por tudo isso, capaz de estar acontecendo com outros incautos, entrei agora à tarde na igreja e acendi uma vela para São Amador. Será que ele está proibido de descer para dar uma ajeitadinha no seu banco?

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