quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Aos Políticos do Congresso Nacional



CARLOS VIEIRA
Sábado passado assisti ao programa de Rolando Boldrin, SR.BRASIL na rede SESCTV. Eis que me deparo com um belo poema de Catullo da Paixão Cearense – A Resposta de Jeca Tatu - Rolando com sua sensibilidade poética e sua dramaticidade de um declamador perfeito, chamou atenção como Catullo é atual, principalmente nesse momento de descrença na ética e compromisso dos nossos políticos da Praça dos Três Poderes. 
Catullo da Paixão Cearense (1863-1946), poeta, músico e compositor, nascido na cidade de São Luis do Maranhão viveu maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde trabalhou como relojoeiro e fez parte da vida dos Chorões, juntamente com Anacleto de e Catullo reabilitou o violão nos salões da alta sociedade carioca, e deixou belas composições como Luar do Sertão e sua letra de Flor Amorosa, composição de Joaquim Calado, como também uma obra poética que canta a alma sertaneja do brasileiro. 
Hoje, resolvi transcrever alguns trechos do poema – A Resposta de Jeca Tatu – declamado por Rolando Boldrin com sua nota inicial, para lembrar aos nossos políticos um pouco da realidade desse Brasil Emergente! Nunca é tarde lembrar os “compromissos de campanha”.
A Resposta do Jeca Tatu
“Como diz o cabôco: “Diz qui”, há muito tempo, um tal Senadô andô falano num jornal qualquer, qui o rocêro, o caipira, é... um priguiçôso, um indolente, um que só vive incostado... um punhado de coisas, enfim. O grande poeta Catullo da Paixão Cearense colocou, então, na boca de um desses brasileiros, lá do sertão, uma resposta... bem assim:
Seu dotô, venho dos brêdo,/ Só pra mode arrespondé/ Toda aquela fardunçage/ Qui vancé foi inscrevê! 
Num teje vancê jurgano/ Qui eu sô argum cangussú!/ Num sô não, Seu Conseiêro./ Sô do norte, sô violêro/ e vivo naquelas mata,/ como veve um sanhaçu!/ Vassucê já mi cunhece: Eu sô o Jeca Tatu!...
Vancê só sabe de lêzes,/ Qui si faiz cum duas mão!/ Mais porém, nun sabe as lêzes/ Da Natureza, e qui Deus/ Fêiz prá nóis, cum o coração! 
Vancê nun sabe cantá/ Mais mió qui um curió,/ Gemeno à bêra da istrada!/ Vancê nun sabe inscrevê,/ Num papé, feito de terra,/ Quano a tinta é o do suó,/ E quano a pena é uma inxada! 
Preguiçoso? Madracêro?/ Nhão Sinhô, seo conseiero./ É pruquê vancê num sabe/ O que seje boiadêro/ Criá cum tanto cuidado/ Cum tanto amô e alegria/ Umas cabeças de gado/ E despois, a impedemia/ Carregá tudo com os diabo/ Em meno de quatro dia.
Pru mode a politicáia/ Vancê qué que um homi sáia/ Do sertão pra vim votá/ Em Juaquim, Pedro ou Francisco/ Quando vem a ser tudo iguá... 

Vassuncê sabe onde ta/ O buraco adônde véve/ O tatu esfomeado?/ Ta nos palaço da corte./ Dessa porção de ricaço/ Que fez aquele palaço/ Cum o sangue dos desgraçado.

Vancêis tem rio de açude/ Tem os dotô da higiena/ Que é pra cuidar da saúde.../ E nóis, o que que tem? Arresponda? No tempo das inleição/ Que é tempo das bandaiêra/ Nóis só tem uma cangáia/ Pra levá toda a porquêra/ Dos dotô puliticáia. 

Vancê qué ser presidente? / Apois seja meu patrão./ A nossa terra, o Brasil / Já tem muita intiligência./ Muito homi de sabença/ Que só dá pra espertaião./ Leva o diabo a falação./ Pra sarvá o mundo inteiro/ Abasta ter coração. 

Prôs homi de intiligência/ Trago cumigo essa figa – Esses homi tem cabeça,/ mas porém o que é mais grande/ do que a cabeça... é a barriga. 

Sêo conseiêro ... um consêio./ Dêxe toda a birbotéca/ Dos livros... e se um dia vancê quizé/ Passá uns dia de fome/ De fome e tarveis de sede,/ E drumí lá numa rede/ Numa casa de sapé./ Vá passá comigo uns tempo/ Nos mato do meu sertão./ Que eu hei de lhe abrir as portas/ Da choça e do coração. 
Eu vorto pros matagá 
Mas porém oiça premero: 
Vancê pode.
“Em um mundo em que a política foi destruída pelo poder transformado em violência, a solidão é o sintoma do medo do outro que ameaça o indivíduo... A solidão é, assim, a categoria política que expressa a nostalgia de uma vivência de si mesmo.” Fragmentos de um texto de Márcia Tiburi – “Política da Solidão”, colunista da Revista Cultura.
Prezado leitor, será que o Jeca Tatu só vive no sertão? Ou estamos todos nos transformando nessa persona triste, desamparada e só, sem fé, sem sentido de família, de Estado, política social, educação e Justiça? 
No momento que terminava essa matéria, um amigo meu, Professor, comunicou que o Brasil foi classificado em penúltimo lugar no mundo, num Programa de Assistência à Educação!
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

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