sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Johann Vermeer: um dos maiores mestres na arte de pintar



Agonia e Morte
Vermeer foi chefe da Guilda de São Lucas por duas vezes, um cargo de prestígio, fundamental para as Artes na Holanda. A segunda vez foi em 1671. Sua reputação como homem correto e grande artista estava consolidada em Delft.
O destino porém lhe foi ingrato. Em 1672 a França invadiu a Holanda e uma grave crise financeira seguiu-se a essa desgraça.
Um pouco depois da invasão ele pediu 1000 florins emprestados à sua sogra. Sua renda ficara próxima de zero e ele tinha onze filhos para sustentar. E tal como outros artistas de Delft, aliás de toda a Holanda, não vendia nem o que pintava, nem o estoque de outros artistas que guardava como comerciante de quadros.
Não é preciso muito para imaginar o que esse homem sensível sofreu. Três anos depois, aos 47 anos, faleceu e eis o que Catharina escreveu: “como resultado e com muitas dívidas devido à carga de uma família de onze crianças, não tendo meios para vencer a crise, esse homem, em profunda angústia, foi da saúde à morte em um dia ou dia e meio”.
E por aqui paro. Vamos é honrar esse artista genial falando de mais algumas obras dele.

Vista de Delft
Apesar de existir uma boa quantidade de paisagens holandesas pintadas no século XVII, nenhuma é capaz de transportar o espectador para o passado e para dentro do cenário, quase que sentindo a água, o ar, os tijolos e a argamassa como essa visão de Delft. Há mais ou menos 15 figuras nessa tela. As roupas das pessoas em primeiro plano falam de sua posição social. Dos burgueses elegantes em pé perto do barco às camponesas com suas roupas típicas.
A torre inclinada da Oude Kerk (primeira à esquerda) durante muito tempo alarmou os moradores de Delft. Desde o início do século XIX, reforçada, ela está firme, mas continua inclinada e a cidade a chama carinhosamente de Scheve Jan (Jan Inclinado).
Nessa igreja Johann Vermeer foi enterrado. O registro diz: “Em 15 de dezembro de 1675, Jan Vermeer, artista de Oude Langendijk, foi enterrado na Oude Kerk”. 
A casa da sogra de Vermeer ficava à direita da torre da Nieuwe Kerk (no centro da tela), mas não é vista de onde estamos. O pequeno relógio na torre avisa que são quase sete horas. 

Jovem Com Jarra d’Água
Nesse quadro as mãos da jovem e suas feições não estão nítidas, sugerem movimento, além de estarem plenamente banhadas pela intensa luz do meio do dia. 
Comparadas às outras jovens pintadas por Vermeer nos anos 1660, ela parece inexpressiva, o que por mais estranho que possa parecer, é o motivo pelo qual desde sempre ela teve apelo universal.
É a imagem da domesticidade, a figura intocável que era o sonho de todo homem.
Uma das características técnicas desse quadro é o azulado nas sombras da touca da moça. É um efeito que Vermeer já tinha experimentado: ele acrescentou azul ultramarino às cores escuras que eram sempre misturadas ao branco para criar as sombras.
O tecido branco adquiriu uma frescura e um brilho que só seriam vistos novamente mais de 200 anos depois, quando os impressionistas franceses começaram a experimentar com uma técnica similar para sombrear com cores claras em vez dos cinzas neutros.

A Arte da Pintura
Apesar dos especialistas em Vermeer não acreditarem que esse quadro tenha sido concebido como autorretrato, não há motivos para não acreditarmos que o artista quisesse ao menos deixar um testemunho de sua atividade como pintor.
Talvez os cabelos alourados e finos que escapam da boina sejam dele. Estão tão misturados com as cores do fundo da tela que quase não são vistos. Há outros quadros nos quais o artista aparece de costas para o espectador mas nenhum esconde completamente seu rosto. Aqui o espectador está livre para imaginar o que quiser.
Quase todos concordam que a jovem representa Clio, a musa da História. A coroa de louros denota glória eterna. Colocando Clio no centro de seu quadro Vermeer mostra a importância para as Artes que dava à História.
Vermeer no início de sua carreira usou mais temas históricos. Mas neste A Arte de Pintar ele mostra que além de ser um grande pintor, era um homem antenado com seu tempo, participativo dos debates com a elite intelectual. 
Clio segura uma trombeta na mão direita, o que simboliza a fama, e na outra um livro que pintores contemporâneos de Vermeer usavam muito, uma espécie de dicionário iconográfico. Apesar de não ter nada escrito, pois ele pintou somente a contracapa, era facilmente reconhecido por sua cor e tamanho: Iconologia ou Emblemas Morais de Cesare Ripa (1709). 

Vista de Delft (1660/1661), óleo sobre tela, 98.5 x 117.5 cm 
Mauritshuis, Haia
Jovem Com Jarra d’Água (1664/1665), óleo sobre tela, 45.7 x 40.6 cm 
Metropolitan Museum of Art, New York
A Arte de Pintar (1666/1668), óleo sobre tela, 120 x 100cm) 
Kunthistoriches Museum, Viena

Nenhum comentário:

Postar um comentário