O baiano Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), considerado um dos mais brilhantes poetas românticos brasileiros, é chamado de “cantor dos escravos” pelo seu entusiasmo diante das grandes causas da liberdade e da justiça: a Independência na Bahia, a insurreição dos negros de Palmares, o papel da imprensa e acima de tudo isso a luta contra a escravidão.
No poema “O Gondoleiro do Amor” concentra toda a face lírica do poeta, tanto de cunho amoroso quanto social, mormente amoroso, porque descreve o trajeto de um amor de início inconstante, que vai se concretizando e superando os elementos predominantes ao possuir uma mulher de carne e osso, afeita às sugestões de um cenário perfeito para a plenitude amorosa.
O poema construído com antíteses, refrão, metáforas, hipérbole e vocativo é uma barcarola dedicada a Eugênia Câmara, atriz portuguesa e o grande amor de Castro Alves. Vale ressaltar a associação da cor dos olhos da “dama negra” com a ideia de profundidade.
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O GONDOLEIRO DO AMOR
Castro Alves
Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar…
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
Como as noites sem luar…
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
do Gondoleiro do amor.
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
do Gondoleiro do amor.
Tua voz é a cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento;
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento;
E como em noites de Itália,
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.
Teu sorriso é uma aurora,
Que o horizonte enrubesceu,
-Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu.
Que o horizonte enrubesceu,
-Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu.
Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.
Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;
Como é doce, em pensamento,
Do teu colo no languor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?…
Do teu colo no languor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?…
Teu amor na treva é – um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa – nas calmarias,
É abrigo – no tufão;
No silêncio uma canção,
É brisa – nas calmarias,
É abrigo – no tufão;
Por isso eu te amo querida,
Quer no prazer, quer na dor…
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.
Quer no prazer, quer na dor…
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.
(Colaboração enviada pelo poeta Paulo Peres – site Poemas & Canções)
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