Ficamos sabendo pelo jornal francês “Le Monde” que a presidente Dilma, que está de viagem por aquelas paragens, não tolera a corrupção.
Bom que o “Le Monde” nos avisou, porque a presidente, que estava mais uma vez na Europa para ensinar aos tacanhos governos austeros como é que se cresce perto de 1% ao ano arrecadando 35% do PIB em impostos e estourando as contas fiscais, não toca muito nesse assunto quando está entre nós.
Diria alguma alma maligna que não se fala de corda em casa de enforcado, porque a grei política (para usar um termo que o Estadão usava em editoriais algumas décadas atrás) à qual a presidente pertence, tem andado às voltas com alguns problemas bastante próximos a essa areia movediça que genericamente chamamos de corrupção.
Nem bem terminou o julgamento do Mensalão, do qual ainda sobraram algumas pendências complicadas, tal como a cassação ou não do mandato de parlamentares envolvidos, eis que a malvada roda da conspiração midiático-elitista-reacionário-burguesa volta a movimentar-se.
Como se não bastasse os conspiradores defenderem abertamente a tese retrógrada de que os condenados devem cumprir as penas que receberam, a máquina conspiratória não para de inventar novas histórias, com a ajuda inestimável da máquina de criar fábulas da Polícia Federal, do Ministério Público e da Procuradoria-Geral da República.
Surgiu o caso Rosemary Névoa, a senhora muito influente que era chefe do gabinete da Presidência em São Paulo e que nomeava diretores de agências reguladoras especialistas em negociar pareceres técnicos em benefício de certas empresas.
Ela foi defenestrada rapidamente pela presidente da República enquanto seus protegidos eram presos pela Polícia Federal.
Fofocou-se à vontade sobre a vida privada de dona Rosemary, quando na verdade o que deveria importar à Nação era o que ela fazia da vida pública, que é o que realmente nos interessa.
Enquanto a máquina de desmentidos pró-governo era posta a funcionar a todo vapor e o caso Rosemary começava a esvair-se no infinito emaranhado de escandalinhos e escandalões que já embaça a memória dos brasileiros, eis que emerge das trevas a voz soturna de Marcos Valério para reinaugurar com ares de novo um escândalo velho: ele disse à Procuradoria Geral da República que parte do dinheiro do mensalão pagou contas do ex-presidente Lula.
Nunca antes na História deste País uma presidente da República que detesta a corrupção e que já tinha demitido sete de seu governo por conta de denúncias , foi tão contrariada.
Só há uma explicação para isso: tem gente no governo que não gosta dela e inventa escândalos só para deixá-la nervosa.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br
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