quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - GRAVURAS Francisco de Goya: a crueldade da ignorância



(continuação) Treze dias depois a Gazeta de Madrid publica um segundo anúncio, mais resumido.
Na mesma loja do nº 1 Calle del Desengaño, rez do chão, estão à venda 300 exemplares de Os Caprichos. Goya reside nesse endereço, no segundo andar.
Tudo leva a crer que Goya imprime as gravuras ele mesmo, e de modo discreto, provavelmente em uma mansarda na Embaixada da França, e deseja ser cauteloso, por prudência, em caso de sucesso de público. Por isso quer controlar as vendas e não utilizou os circuitos de distribuição habituais.
Desde que são lançados, Os Caprichos fazem grande sucesso. Vinte e sete exemplares encontram compradores quase que imediatamente mas também provocam um grande escândalo.
Mais duas semanas e a Gazeta de Madri repercute o escândalo e as pessoas passam a compreender mais facilmente porque Goya abandonou sua ideia inicial de distribuir as estampas pelo método tradicional, sob forma de assinatura : foi para não comprometer os que os prováveis compradores de suas gravuras. Lembrem-se do tempo em que ele vivia...
Baseado em Jean-Louis Augé, conservador principal do Museu Goya, 2006 
(resumo e tradução mhrrs
A continuar

As gravuras de hoje são aquelas em que Goya critica acerbamente a ignorância em que o povo é mantido para proveito dos poderosos. A ignorancia leva o povo a crer em tudo que lhe dizem, sejam os frades, sejam as autoridades, inclusive as famílias a quem não interessa, ou por ignorância ou por medo que as crianças vejam e falem do que não devem falar... Vê-se o quanto isso indignava o artista ao olhar detalhadamente essas gravuras magistrais.

O que pode um alfaiate! Capricho nº 52

Legenda no Museu do Prado: Quantas vezes um tipo ridículo se transforma em um fantasmão que não é nada e aparenta ser muito! Isso se deve à hablidade de um alfaiate e à burrice de quem julga as coisas pelas aparências.
Da Biblioteca Nacional: A superstição generalizada faz com que todo um povo se proste e adore com temor a um pedaço de pau qualquer vestido de santo.

O bicho-papão vem aí, Capricho nº 3

A respeito da insensatez das mães que aterrorizam seus filhos com horrores imaginários, às vezes para fazer as criaturas obedecerem, às vezes para afastá-las quando não lhes interessa a sua presença, Goya se mostrou enfurecido. Essa prática horrorosa durou séculos e séculos, nem sabemos se ainda é usada mundo a fora... e por aí se vê o quanto Goya era um homem esclarecido para seu tempo.
Legenda no Museu do Prado: Abuso funesto da primeira infância. Faz a criança temer mais ao bicho-papão que a seu pai e a obriga a temer o que não existe.
Da Biblioteca Nacional: As mães, bobas, fazem de seus filhos uns medrosos inventando o bicho-papão; outras há que, mais que bobas, malvadas e devassas, se valem desse artifício para as crianças saírem de perto e deixá-las a sós com seus amantes.

Lo que puede un sastre!, Capricho nº 52, 1799, aquaforte, 21.8 x 15. 1 cm
Qué viene el cocoCapricho nº 3, 1799, aquaforte e aquatinta brunida, 21.9 x 15.4 cm

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