quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

POEMA DA NOITE No lar I - Casimiro de Abreu


 Pedro Lago - 
19.12.2012
 | 23h30m

Longe da pátria, sob um céu diverso 
Onde o sol como aqui tanto não arde, 
Chorei saudades do meu lar querido 
— Ave sem ninho que suspira à tarde. — 
No mar — de noite — solitário e triste 
Fitando os lumes que no céu tremiam, 
Ávido e louco nos meus sonhos d’alma 
Folguei nos campos que meus olhos viam.
Era pátria e família e vida e tudo, 
Glória, amores, mocidade e crença, 
E, todo em choros, vim beijar as praias 
Porque chorara nessa longa ausência.
Eis-me na pátria, no país das flores, 
— O filho pródigo a seus lares volve, 
E concertando as suas vestes rotas, 
O seu passado com prazer revolve! —
Eis meu lar, minha casa, meus amores, 
A terra onde nasci, meu teto amigo, 
A gruta, a sombra, a solidão, o rio 
Onde o amor me nasceu — cresceu comigo.
Os mesmos campos que eu deixei criança, 
Árvores novas... tanta flor no prado!... 
Oh! como és linda, minha terra d’alma, 
— Noiva enfeitada para o seu noivado! —
Foi aqui, foi ali, além... mais longe, 
Que eu sentei-me a chorar no fim do dia; 
— Lá vejo o atalho que vai dar na várzea... 
Lá o barranco por onde eu subia!...
Acho agora mais seca a cachoeira 
Onde banhei-me no infantil cansaço... 
— Como está velho o laranjal tamanho 
Onde eu caçava o sanhaçu a laço!...
Como eu me lembro dos meus dias puros! 
Nada m’esquece!... e esquecer quem há de?... 
— Cada pedra que eu palpo, ou tronco, ou folha, 
Fala-me ainda dessa doce idade!
Eu me remoço recordando a infância, 
E tanto a vida me palpita agora 
Que eu dera oh! Deus! a mocidade inteira 
Por um só dia do viver d’outrora!
E a casa?... as salas, estes móveis... tudo, 
O crucifixo pendurado ao muro... 
O quarto do oratório... a sala grande 
Onde eu temia penetrar no escuro!...
E ali... naquele canto... o berço armado 
E minha mana, tão gentil, dormindo! 
E mamãe a contar-me histórias lindas 
Quando eu chorava e a beijava rindo!
Oh! primavera! oh! minha mãe querida 
Oh! mana! — anjinho que eu amei com ânsia — 
Vinde ver-me, em soluços — de joelhos — 
Beijando em choros este pó da infância!

Casimiro José Marques de Abreu ( Barra de São João, Rio de Janeiro 4 de janeiro de 1839 - Nova Friburgo, Rio de Janeiro 18 de outubro de 1860) - Foi um dos poetas mais populares do Romantismo Brasileiro. Colaborou com as revistas O Espelho, Revista Popular, A Marmota e com o Jornal do Correio Mercantil. Foi escolhido por Teixeira de Melo para patrono da cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras no momento de sua fundação. 

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