Publicação descreve chanceler alemã como autoritária, pragmática, mas sem ideias
BERLIM - A um ano das eleições em que a chanceler federal Angela Merkel buscará o seu terceiro mandato, e em plena crise do euro, um livro lançado na última quinta-feira em Berlim teve o efeito de um bomba entre os conservadores alemães. Em “Die Patin: wie Angela Merkel Deutschland umbaut” (A Chefona: como Angela Merkel desconstrói a Alemanha), a cientista política Gertrud Höhler, conselheira política do ex-chanceler Helmut Kohl, aponta a chefe do governo alemão como uma mulher oportunista, sem valores, criadora de um sistema autocrático para dominar o país e calar todas as críticas.
- Agora ela caminha para se tornar a chanceler dos europeus graças ao poderio econômico da Alemanha - avalia Höhler.
Eleita mais uma vez pela “Forbes” a mulher mais poderosa do mundo e aprovada pela maioria dos alemães, Merkel reina há anos no seu partido, União Democrata Cristã (CDU), sem críticas: rivais internos renunciam por motivos não muito claros.
“Fria como uma geladeira”
Höhler usa o caso do deputado Wolfgang Bosbach, democrata-cristão eleito pelo estado da Renânia do Norte-Vestfália, para mostrar o tratamento de Merkel aos críticos. Depois de anunciar que iria se opor ao governo na votação sobre o aumento da contribuição alemã ao fundo de resgate da zona do euro, Bosbach foi alvo de xingamentos - proferidos pelo chefe de Gabinete de Merkel, Ronald Pofalla.
- Bosbach é um exemplo de como no sistema Merkel vozes críticas são chamadas de dissidentes - afirma a autora do livro. - A moral é um instrumento de manobras, a pouca avaliação das qualidades dos colegas é o programa. A consequência: abandono de importantes regras da democracia.
Höhler recorre ao passado da chanceler para tentar explicar sua atuação política:
- O problema de Merkel é que até os 35 anos ela viveu no regime comunista. Não era dissidente, mas conformada; aprendeu a ficar calada para não se comprometer e a desconfiar de todos. Ela começou na política tendo como princípio que o silêncio é ouro.
Depois da queda do muro, Merkel se tornou a única pessoa da antiga Alemanha Oriental a fazer sucesso na política. Para a cientista política, seu estilo de governo tem o “gene da RDA” .
- Seu estilo lembra um socialismo autoritário, centralizador. Merkel não tem visão, idealismo. Ela surpreende pela falta de emoções. O que não funciona, tira da pauta.
Segundo Höhler, Merkel adotou um pouco de cada partido — praticamente “roubando ideias” e esvaziando seu partido ideologicamente. Höhler não esqueceu como Merkel conseguiu subir ao topo da CDU. Após a reunificação, foi chamada pelo então chanceler Helmut Kohl para ocupar o Ministério da Família. Em 1999, após um escândalo de doações partidárias, ela escreveu um artigo no jornal “Frankfurter Allgemeine Zeitung”, distanciando-se do mentor.
Em dezembro passado, em reportagem da “Newsweek”, o jornalista britânico Roger Boyes, que foi correspondente do “Times” na Alemanha, reforça o estereótipo de a chanceler ser “fria como uma geladeira”. Ele cita a separação dela do primeiro marido, Ulrich Merkel. Um dia, ela arrumou as trouxas e foi embora sem dizer nada. Dias depois, voltou para buscar a geladeira. Era o ano de 1981. Na Alemanha Oriental, dominada pelo comunismo, era um produto de luxo.
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