Enviado por Sandro Vaia -
22.6.2012
| 9h44m
POLÍTICA
“A fotografia é subversiva não quando assusta, perturba ou até estigmatiza, mas quando é pensativa”. ( Roland Barthes)
É muito provável que Paulo Salim Maluf jamais tenha ouvido falar de Roland Barthes nem de semiótica. Nem ele, nem Luiza Erundina. Mas com certeza nenhum dos dois desconhece o ditado “uma foto vale mais do que mil palavras”.
Muito mais de mil palavras já foram escritas e muitas ainda se escreverão sobre a imagem que junta Paulo Maluf, Lula da Silva e Fernando Haddad tendo como pano de fundo indícios do jardim babilônico da ostensiva pirâmide erguida à riqueza que é a casa do ex-prefeito de São Paulo no bairro dos Jardins, em São Paulo.
A foto sela uma inusitada aliança política, mas não escandaliza pela aliança. Escandaliza pela imagem. No caso, diriam os semióticos, o significante vale mais do que o significado.
Já foi o tempo em que a tenra planta da democracia brasileira se abalava com as chamadas “alianças espúrias”.
A bem da verdade, nunca se abalou, a não ser na consciência irredutível de alguns turrões defensores ortodoxos do decoro político como Mário Covas, que em boa hora impediu a revoada de seus companheiros tucanos no momento em que se dispunham a jogar um salva-vidas para salvar o desastroso governo Collor.
Governar é preciso, diriam os navegantes do pragmatismo, e por isso alianças ditas “espúrias” ajudaram FHC e Lula e estão ajudando Dilma a atravessar as marolas da governabilidade.
O partido de Maluf está instalado em um nicho da base do governo há muito tempo, como está ocupando um lugarzinho quente no governo de Alckmin, e só não está na campanha de Serra por uma questão de divergência nos meios de pagamento.
Acontece que a simbologia que conta no imaginário político brasileiro floresce em torno de pessoas e não de legendas ou siglas. O diabo é Maluf e não o partido de Maluf. É assim que se joga o jogo. E Maluf, o esperto dos espertos, sabe disso. Resolveu vender caro o seu minuto e meio de TV.
Procurado pela Interpol, acusado de desviar montanhas de dinheiro público, estigmatizado e demonizado em gestos, atos e palavras pela essência do petismo, que se auto-construiu como a sua antítese moral e ética, Maluf viu no episódio da aliança com Haddad a oportunidade da revanche perfeita.
Com requintes de sadismo, exigiu, para selar a aliança, que seu detrator máximo descesse de seu pedestal imperial e comparecesse ao jardim de sua casa, levando pelo braço o seu candidato de engonço, e posasse para um batalhão de fotógrafos submetendo-se ao cinismo deslavado do famoso sorriso industrial que o inimigo histórico traz impresso como uma tatuagem no rosto.
A vingança é um prato que se come cru.
Erundina, com seu ar misto entre a madre superiora ultrajada e a stalinista tardia, abandonou o barco, não em repúdio à aliança mas à escandalosa cena explícita da aliança. Era como se dissesse, mutatis mutandis, estupra mas não mata. Ou melhor: apoia mas não fotografa.
Mas o satânico dr.Paulo fotografou, relaxou e gozou.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br
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